O que poderia ter sido o game da década nas mãos da Bioware, Blizzard ou da Bethesda acabou nas mãos da Atlus (conhecida pela série japonesa Persona) e Cyanide (Cursed Crusade), empresas com pouca experiência, que colocaram no mundo um RTS antiquado, ruim e feio chamado Game of Thrones Genesis. E para piorar, a Cyanide tinha conseguido a licença para usar elementos dos livros mas não da série da HBO, fazendo um game visualmente pobre e com praticamente nenhuma relação com os personagens que todos estavam vendo na TV...
Por sorte a softwarehouse aprendeu rápido. Não passou direito um ano após Genesis chegar ao mercado e a Cyanide já volta com um Game of Thrones beeeeeem diferente.... e para melhor.
O Inverno está chegando? Aqui na Muralha é Inverno o tempo todo! |
Diante do sucesso da série, a empresa fez o que deveria ter feito de começo, assegurou os direitos para usar os elementos visuais do seriado, chamou os atores para fazer dublagens e, não satisfeita, colocou o próprio George R. R. Martin para escrever o enredo e ainda fazer uma ponta no jogo...
O resultado é extremamente divertido para os fãs da série, tanto dos livros quanto da televisão. O enredo é muito acima da média do que vemos por aí em games, com tantas reviravoltas, sidequests, tramas e traições que você não vai largar da cadeira tão cedo, e muito provavelmente gaste mais de um mês para terminar o jogo, provavelmente jogando denovo depois só para ver como tudo se desenrola se seu personagem agir de outra maneira (por qual motivo você acha que o Blog da Resenha ficou tanto tempo sem posts novos?!).
A narrativa não-linear segue dois personagens inéditos no mundo das Crônicas do Gelo e Fogo, criados pelo autor dos livros exclusivamente para este game. Mors é um vigilante da Night's Watch que foi obrigado a entrar para a compania de excluídos e bastardos depois de se negar a seguir as ordens sangrentas de seu lorde. Com os acontecimentos do livro e da série, ele se vê incumbido de proteger uma jovem misteriosa, que está ameaçada por assassinos enviados pela própria rainha Cersei.
"Fuck the Town Guard!" |
Ao mesmo tempo (na verdade antes da narrativa de Mors, depois acompanhando ela) temos outro protagonista, Aleister Sarwyck, filho de uma família nobre que resolveu se isolar do mundo e virar sacerdote de uma religião estrangeira. De volta ao reino de seu pai, depois de saber do falecimento dele, encontra o local mergulhado em caos, com seu irmão caçula acusado de assassinato e sua irmã prometida para um bastardo de seu próprio pai, sedento de poder.
As duas narrativas se intercalam em capítulos, até se unirem em uma só, lá pelo meio do jogo, e durante cada capítulo, suas ações com um dos protagonistas vão determinar muita coisa que acabará acontecendo com o outro.
A história é bem amarrada, e de tão boa vai acabar se tornando oficial e entrando para os livros e para a série de TV. Os personagens são bem construídos, os diálogos são bem montados e muitos momentos intensos dão destaque à profundidade deles.
"Não me mate, não fui eu quem cortou seu cabelo nesse penteado "indiozinho"!" |
A parte gráfica tem pontos altos e baixos. A modelagem e o design das armas, armaduras e personagens são bastante bem feitos, e os personagens que aparecem na série de TV realmente parecem com os atores. As armas e armaduras são bonitas e criativas, e você não precisa esperar até altos níveis ou até o fim do jogo para deixar seu personagem realmente brutal. Até as armaduras mais simples e fracas são bonitas de se ver e tem todo o ar "badass" da série.
Infelizmente as texturas e a animação decepcionam. E muito. Os personagens são meio "robocop" no modo de andar e de se moverem, as armaduras dobram de maneira estranha e partes delas "passam através" de outras ou ficam invisíveis em certos ângulos. As animações das faces são ruins e as texturas em geral tem péssima qualidade, sendo muito desfocadas quando vistas de perto.
A iluminação é até boa, e é muito satisfatório ver a luz refletindo nas armas e armaduras, mas alguns elementos como o fogo de lareiras e tochas são toscos e "clonados" à exaustão...
O som também tem altos e baixos. A trilha sonora, tirada da série de TV, é ótima, embora não tenha sido produzida pela (ou a mando da) Cyanide, a dublagem dos atores da série também são boas, e a voz de Mors em especial soa sinistra, ríspida e muito bem feita. Em compensação, Aleister soa como se estivesse cansado e entediado o tempo todo, mesmo quando o dublador deveria soar entusiasmado. Outros personagens secundários também soam mal, com dublagens amadoras e mal editadas.
Escolher a habilidade certa na hora certa faz toda a diferença! |
A jogabilidade é bem mediana e deixa evidente a falta de experiência e de mais Beta Tests da Cyanide e da Atlus. Muitos menus são ruins, mal editados, mal colocados ou difíceis de se encontrar, o sistema de visão segue o da maioria dos MMO gratuitos, onde você tem que segurar o botão direito do mouse para virar a visão do personagem enquanto anda, caso contrário ele vai para um lado olhando para o outro (e a chance de bater com a cara numa parede é alta!).
Os combates são um pouco repetitivos, mas a quantidade de "manobras especiais" adiciona uma boa dose de estratégia neles. A qualquer momento você pode apertar barra de espaço para a tela ficar em câmara lenta e você poder escolher com o mouse entre várias habilidades de seu personagem. Coisas como incendiar o inimigo, derrubá-lo no chão, curar seus aliados ou atacar em área podem salvar sua vida, e há muitos combos que podem ser aplicados, com golpes que tem o efeito maximizado se o inimigo está caído, ou que causam mais dano se ele estiver sangrando, por exemplo.
Fora de combate, cada um dos protagonistas tem uma habilidade especial. Mors pode "possuir" seu cachorro de estimação (um dos animais mais mal feitos que já vi em jogo, parece mais um chupacabras do que um cão...) e usar ele para espionar os inimigos, fazer ataques furtivos, farejar itens escondidos e seguir pistas de outros personagens. Aleister, por sua vez, pode invocar seu deus para encontrar passagens secretas e itens escondidos, o que é menos versátil porém visualmente mais interessante.
Armas e armaduras são bonitas e dão um look "badass" para os protagonistas |
Outro problema do jogo são os loadings, que levam vários minutos para passar de uma cena a outra ou simplesmente para iniciar o jogo. Pelo menos esse problema já foi corrigido com um patch, mas quem for jogar o game recém comprado, sem fazer update, vai sofrer um pouco com eles.
No geral, Game of Thrones RPG é um gigantesco passo para a Cyanide, e representa um imenso avanço em relação aos jogos anteriores da softwarehouse. Os problemas podem facilmente ser atribuídos à pouca experiência da empresa, mas, se eles insistirem e investirem em um Game of Thrones 2 é possível que tenhamos uma nova concorrente para a Bioware e Bethesda...