Talvez você nunca tenha ouvido falar de Howard Phillips Lovecraft. No início do século XX, ele revolucionou a literatura de terror. Até então os livros e contos de horror eram quase sempre relacionados a vampiros e fantasmas angustiados e melancólicos. Lovecraft foi um dos pioneiros em criar verdadeiras mitologias, escrevendo livros sobre monstros que haviam habitado a Terra a milhões de anos, deuses esquecidos, criaturas vingativas, magia negra e insanidade.
Suas obras não ficaram tão famosas quanto a de escritores mais modernos, mas tiveram grande influência na cultura pop, inspirando gente do calibre de Robert Howard (criador de Conan, o Bárbaro) e Stephen King.
O conto mais conhecido de Lovecraft diz respeito a Cthulhu, um monstro meio-polvo com poderes quase divinos, que habita o fundo do oceano, tirando um cochilo de bilhões de anos e que, se despertado, destruiria toda a humanidade sem piedade.
Não é de hoje que tentam adaptar os clássicos de Lovecraft para jogos. Muitos games, como Dead Space, tem elementos da mitologia Cthuliana, e outros, como Prisioners of Ice, são diretamente baseados nas obras do escritor.
Call of Cthulhu: Dark Corners of Earth tem uma história quase tão antiga quanto a dos deuses-monstros do autor. O jogo foi anunciado a mais de uma década atrás, e passou na mão de diversas softwarehouses. A idéia era fazer um jogo de terror e suspense o mais similar possível à obra do autor.
Durante todo este tempo, o game foi sendo feito e refeito, cancelado e anunciado, prometido e abandonado, até cair nas mãos da ressuscitadora de games cancelados, a Bethesda Softworks (Fallout 3, que também tem uma história similar).
Os cantos sombrios da Terra:
Call of Cthulhu tem como protagonista o detetive Jack Walters. O personagem é um detetive da polícia de Boston, que, em uma investigação, se vê envolvido com os horrores dos livros de Lovecraft. Dizer mais do que isso é quebrar o clima de suspense do jogo.
O game é muito bom em criar uma ambientação ao mesmo tempo sombria e condizente com os contos do autor no qual se baseia. Um fã irá encontrar referências explícitas a diversos contos de H. P. Lovecraft. Passagens inteiras de seus livros são transportadas com sucesso para o PC, como a cena de perseguição do livro Shadow over Innsmoth. (Sombras sobre Innsmoth).
O jogo também abusa de efeitos visuais e sonoros, principalmente para indicar que seu personagem está perdendo a sanidade. Se deparar com imagens atrozes, monstros e coisas assim faz com que a visão de Jack fique nublada, turva ou que ele tenha alucinações. Ás vezes o simples fato de se equilibrar em um telhado ou ponte já é o bastante para distorcer a visão do personagem, indicando seu medo de altura. Os efeitos sonoros também são bem feitos, e em muitos locais, quando Jack está sozinho, é possível ouvir vozes ou passos.
Os puzzles de Call of Cthulhu são bem feitos, e alguns vão te deixar roendo unhas por horas até descobri-los. A maior parte das pistas para os puzzles estão em documentos escritos que são achados pelo caminho e contam um pouco da história dos locais onde você está.
Apesar das boas idéias, dos bons efeitos sonoros e da adaptação quase perfeita das obras de Lovecraft, Call of Cthulhu peca um pouco nos gráficos. O jogo é um pouco antigo, datando de 2005, mas tem gráficos bem inferiores aos outros da época. Os personagens são excessivamente "quadrados", e os efeitos de anti-alias não ajudam muito. Os efeitos de luz também são fracos, e a animação é capenga.
O que mais conta contra Call of Cthulhu, no entanto, é a jogabilidade. A princípio o game se mostra como um jogo investigativo em primeira pessoa, estilo CSI. Mas toda a investigação se restringe somente a recolher um ou outro papel caído por aí.
Como shooter, o game é bem capenga. Seu personagem é muito frágil, lento e pesado, é difícil desviar de ataques, ele morre rapidamente e praticamente não consegue se esgueirar furtivamente pelo cenário. Fora o fato de que você fica mais da metade do jogo sem uma arma sequer. Nem mesmo socos e chutes estão disponíveis. Tudo o que você pode fazer é correr dos inimigos e rezar para que nenhuma bala o atinja.
Se você for ferido, prepare-se para um demorado processo de recuperação. O personagem carrega consigo bandagens, linha, agulha, talas e demais equipamentos de primeiros socorros, e para recuperar seus ferimentos leva um longo tempo no jogo se enfaixando e se tratando. É uma opção realista, mas prejudica bastante o andamento do game.
A interação com os outros personagens também beira a inexistência. Seu personagem apenas geme de dor, e, seguindo a tradição dos shooters antigos, é completamente mudo. Embora ele mantenha um diário que pode ser lido no início de cada capítulos, não há maiores opções de interação com outros personagens, como as falas de Fallout 3 ou os longos e divertidos diálogos de Mass Effect.
A impressão é que Call of Cthullu foi um laboratório para o pessoal da Bethesda desenvolver Fallout 3. Embora tenha algumas adições criativas e seja bem adaptado dos livros de Lovecraft, os gráficos ruins e a jogabilidade indecisa torna o jogo cansativo.
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