Dead Space é uma série de altos e baixos. O primeiro game da série, apesar de meio clichê se mostrava competente em dar sustos, e o segundo jogo provavelmente te fez comprar algumas calças marrons para não passar vergonha se cagando de medo a cada cinco minutos.
Se você não é muito ligado em games de horror ou estava meio afastado de seu console favorito nos últimos anos, Dead Space conta a história do engenheiro Isaac Clarke, especialista em reparos de sistemas de comunicação de naves espaciais. No que parecia ser uma missão de rotina, Isaac e seus auxiliares viajaram até uma nave, a ISS Ishimura, que havia perdido comunicação com a Terra logo depois de se envolver em uma operação de mineração em um planeta distante. Chegando lá descobriram que tudo era muito pior do que um simples problema nas antenas, a nave tinha descoberto um artefato alienígena chamado Marker, e todos dentro dela haviam enlouquecido ou pior, se transformado em formas grotescas de vida conhecidas como Necromorfos.
Após muito drama, Isaac conseguiu fugir da nave, apenas para ser resgatado e usado como cobaia para que cientistas construíssem um Marker falso, gerando mais uma onda de Necromorfos, destruição e insanidade.
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"Maldição! Não ensinam a lutar contra aberrações na faculdade de engenharia!" |
O sentimento de estar sempre em desvantagem era ainda maior devido aos monstros que saiam de qualquer buraco na nave para te emboscar, falta de munição e sempre aquela incerteza sobre qual era o próximo horror a aparecer. Filmes, arquivos de texto e voz davam um background ainda maior, com narrativas sobre como os Necromorfos surgiram e várias narrativas paralelas.
Por falar em narrativas paralelas, geralmente você encontrava cenas ou documentos de pessoas que também estavam tentando escapar dos monstros, as via através de vidraças ou à distância, o que dava uma idéia de que havia todo um mundo de outras vítimas, heróis e vilões atuando ao mesmo tempo que você.
Some a isso a doentia e absurda pervesão do estúdio Visceral Games na criação de suas criaturas. Tinhamos crianças e bebês transformados em Necromorfos, mulheres grávidas e criaturas que pareciam saídas de um acidente automobilístico fatal, suicídios, infanticídios, assassinatos e tortura, tudo nos mais viscerais detalhes acontecendo aqui e ali durante o jogo...
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Já deu pra perceber o motivo do nome do estúdio que fez esse game... |
Isaac como um personagem frágil, mal treinado e mal armado? Esqueça, agora ele não faz feio a nenhum super-soldado, com acesso a movimentos muito mais rápidos e precisos.
Até foi uma boa idéia a inclusão de uma mecânica de personalização de armas, permitindo que você desmonte e monte suas armas de acordo com suas preferências pessoais. Lembrou um pouco a cena do filme Aliens onde a tenente Ripley cria um combo de lança-chamas e fuzil com fita silvertape. No entanto o jogo simplesmente jogou fora a questão das munições raras e que muitas vezes te obrigavam a tentar sobreviver na base da porrada ou a usar uma arma que não era tão boa, na falta de munição para as melhores. Aqui toda munição serve para qualquer arma, e você praticamente tropeça nela o tempo inteiro, garantindo que você nunca vai precisar se preocupar muito com improvisação.
Ao invés da claustrofóbica nave Ishimura ou da colônia lunar do segundo jogo, que faziam sentido e tinham todos os cômodos e lugares que deveriam existir em uma nave espacial ou colônia extra-terrestre, aqui temos um monte de locais lineares, muitas vezes confusos e sem sentido, e, sobretudo, sem personalidade. Se você jogou os games anteriores da série, provavelmente conhece a Ishimura quase que centímetro por centímetro, mas em Dead Space 3, é difícil lembrar de qualquer local de nota ao longo do game inteiro.
Brutalidade? Bebês mutantes? Crianças disformes? Esqueça. Dead Space 3 largou de mão tudo o que te fazia sentir mal ou ter náuseas nos game anteriores e foi direto para o zumbi clichê. Na verdade, além do antigo Slasher, necromorfo com facões no lugar de mãos que tinhamos nos outros games, e um ou outro monstro, quase nada da terrível fauna dos outros jogos foi aproveitado. No lugar destes monstros que eram criativos e repugnantes temos zumbis-padrão armados com machados e zumbis-padrão pelados que querem te morder. Também temos aliens zumbis, mas não são lá muito perigosos ou interessantes. E os malditos bebês dos jogos anteriores foram substituídos por...cachorros. Sim, isso mesmo. Cachorrinhos do tamanho de bebês, mais ou menos uma revolta de Chiuauas Mutantes do Espaço.
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The Walking Dead? Resident Evil? Dead Island? Left 4 Dead? |
Basicamente a narrativa de Dead Space 3 se passa alguns anos depois que Isaac Clarke escapou dos Necromorfos no jogo anterior. Angustiado e sofrendo de severos distúrbios pós-traumáticos ele tentou se esconder junto com Ellie, que ele conheceu durante o incidente do game anterior. Tudo deu errado, ela deu um pé na bunda do protagonista e ele passou a sobreviver sem muito dinheiro em um kitinete imundo... até o Governo da Terra procurar ele com uma narrativa bizarra:
A Igreja da Unitologia, que adora os Markers e acha que os Necromorfos são o ápice da evolução, formou um exército tão grande e poderoso que o Governo da Terra está praticamente sem poder real em mãos. Os malucos da Unitologia resolveram espalhar Markers por todo lado e eliminando qualquer um que considerem uma ameaça. Isaac é o alvo que eles buscam com mais dedicação, e o Governo precisa dele, pois foi descoberto o planeta de origem dos Markers, e talvez Isaac e seu conhecimento sobre esses artefatos seja a única maneira de encontrar uma maneira de destruir todos eles com um golpe só. Ou algo assim.
O jogo então te leva a Tau Volantis, o tal planeta de origem dos Markers, circundado por uma imensa quantidade de naves espaciais, de uma facção humana que tinha entrado em guerra com a Terra à 200 anos atrás.
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Duzentos anos, corpinho de 20... |
A parte sonora dos outros jogos era absurdamente bem feita (dá arrepios ouvir a musiquinha "Twinkle twinkle little star" do primeiro jogo...), dava medo, muito medo, era sinistra e perturbadora. Os Necromorfos soavam assustadores, os ecos e vários barulhinhos do cenário, de goteiras a passos, davam um clima sombrio e a música te deixava em pânico nas píores horas. Em Dead Space 3 a parte sonora é sem graça, toda aquela riqueza de detalhes que te deixava tenso com horrores indescritíveis, arranhando o metal por detrás das paredes, foi embora, deixando uma trilha sonora genérica, sons genéricos e um barulhinho eletrônico irritante que te mostra os "melhores lugares para catar itens"...
Graficamente Dead Space 3 é bem inferior aos outros jogos. Os monstros que não foram copiados dos jogos anteriores parecem genéricos e pouco detalhados, os cenários são muito similares uns aos outros, as texturas e iluminação são meia-boca e as armaduras e armas são simplesmente feias...
A Visceral também pisou na bola com algumas coisas, como a idéia de um modo Co-op. Ok, seria até divertido poder reprisar uma parte ou outra com a ajuda de um amigo, mas locais durante o jogo que só podem ser jogados cooperativamente?! Por qual motivo? Como? Aparentemente o pessoal do estúdio pensa que todo mundo que joga um game de terror fica constantemente ligando para os colegas e amigos para saber se eles estão jogando também e em que parte estão, de forma a esperar que um deles chegue nos pontos de Co-op e possa jogar com você...
Por qual motivo não fazer um Co-op desde o princípio? Ou simplesmente deixar de lado a parte de multiplayer. É difícil se assustar em um game de terror enquanto se joga com várias outras pessoas, e Dead Space sempre focou na vulnerabilidade do protagonista, não em grupos de pessoas armadas e eliminando Necromorfos...
Outra coisa sem sentido são os robozinhos que você encontra ao longo do jogo, carrega com você e solta em locais ricos em objetos que podem ser pilhados (mostrados por um irritante barulhinho eletrônico), depois recolhe os robozinhos em uma bancada qualquer. Não chega a ser ruim, mas não faz o menor sentido no mundo do jogo, se tornando um elemento completamente deslocado.
Para piorar, Dead Space 3 eliminou também os savepoints, que eram raros de achar, e os substituiu pelos infames locais de autosave. E caso você esteja se perguntando, sim, os locais onde o jogo dá autosave normalmente ficam antes das cutscenes, o que significa que, se você morre, vai ter que assistir vários minutos de filminho antes de poder jogar denovo...
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Partes do cenário exclusivas para modo Cooperativo. Tudo o que você queria de um jogo de terror! Sóquenão... |
No geral Dead Space 3 é um ótimo shooter, um game de aventura decente, mas um jogo de terror medíocre. De longe o mais fraco da série. Se você quer dar tiros, personalizar armas e arrancar membros de seus inimigos e por algum motivo não quer jogar um Call of Duty ou similar, Dead Space 3 é o seu jogo. Se você quer se borrar de medo, tomar sustos e ficar perturbado com criaturas bizarras e brutalidade dos jogos de uma das melhores séries de terror dos últimos tempos, tire Dead Space 2 da gaveta e reinstale ele...
Uau, sua resenha foi salvadora. Eis um jogo que não comprarei em hipótese alguma.
ResponderExcluirMuito boa resenha
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