10 de dezembro de 2012

Inversion (PC, PS3, Xbox360) (**)



Existem games que inovam. Existem games que copiam os que inovaram e fazem muito sucesso. Existem games que querem capitalizar em cima dos que fizeram sucesso. E existem os que tem uma ou outra idéia legal... mas ainda querem descaradamente capitalizar em cima dos que fizeram sucesso.

Vamos pegar por exemplo Gears of War. Aparentemente o visual de Gears of War (visto do ombro do protagonista) começou com Resident Evil 4, mas foi com o game da Microsoft que esse visual ganhou fama, aliado ao sistema de cobertura e ao design do estilo "passa pela porta - corre para detrás do escombro - mata todos os inimigos - repete".

Hoje vemos inúmeros "Gears of War-clones" por aí, alguns melhores, outros piores, alguns medievais, outros futuristas... E Inversion se encaixa tão bem nessa classificação que três pessoas diferentes que me viram jogando ele perguntaram se era o novo Gears of War...

"Nó! Saiu o novo Gears of War pra PC?!"
 Inversion tem uma narrativa a princípio extremamente genérica, dois policiais de uma cidade chamada Vanguard city estão cuidando de suas vidas quando sujeitos brutos, maltrapilhos e com fuzis toscões invadem o lugar. O protagonista Davis Russel embarca em uma batalha desesperada para resgatar sua filha, e logo no começo já sabemos que cedo ou tarde ele vai se dar mal...

Lá pelo meio do jogo há vários plot twists, e alguns bem inesperados, mas em termos de narrativa, tudo é destruído pelos personagens surpreendentemente mal escritos. Russel é um chato de galocha, que passa o tempo todo murmurando sobre a maldita da filha.

Encontrou a esposa morta? "Tenho que encontrar minha filha". Descobriu algo que mudou completamente sua visão de mundo? "Minha filha...". Brutões controlam a gravidade? "Minha filha...". Uma baita guerra comendo solta no meio da cidade "Filhaaaa...". Lá pela trocentésima vez que ele fica brigando e choramingando com personagens que dizem que talvez, a filha dele possa não ter sobrevivido, você já quer dar um tiro na cara do chato.

Seu parceiro Leo Delgado é outro que, embora menos chato, é terrivelmente esquizofrênico, passando de parceiro estilo filme de tira americano para suporte que dá pézinho pra Russel escalar paredes, inevitavelmente entrando em depressão profunda e se comportando como um suicida... tudo em questão de poucas horas. Se em Spec Ops The Line e Call of Duty Black Ops vemos o protagonista lentamente cavando seu buraco rumo à insanidade, aqui vemos um personagem que muda completamente de personalidade a cada vinte minutos de jogo...

Personagens chatos e jogabilidade copiada de Gears of War... 
Mas nem tudo são tristezas nesse jogo. Inversion tenta inovar com uma arma de gravidade que permite a você deixar uma área com baixa gravidade, fazendo objetos flutuarem e podendo pegá-los e arremessá-los nos inimigos ou áreas com alta gravidade, prendendo os oponentes no chão durante alguns segundos (ou inexplicavelmente gerando um campo de força em volta do seu personagem...).

A mecânica é legalzinha e funciona bem, lembrando um pouco a telecinésia de Star Wars The Force Unleashed, e o visual das armas e equipamentos é bem feito, assim como os efeitos visuais e a maior parte das texturas (embora o cabelo de Russel seja meio estranho... e algumas outras texturas sejam bem feias).

O som também é competente, as armas soam legais e a dublagem não é muito ruim. As músicas são bastante competentes e algumas são até muito boas.

Inversion ainda trás algumas novidades bem legais, como as partes onde seu senso de gravidade muda e você pode andar nas paredes ou no teto de construções, que são muito divertidas, sobretudo quando se enfrenta inimigos em "gravidades" diferentes. As partes em gravidade zero, no entanto, são bastante sem graça. Ao invés de mover livremente ou de poder mudar de orientação à vontade como em Dead Space, aqui você só pode mirar em meia dúzia de objetos colocados um atrás do outro e flutuar entre eles até voltar  à gravidade normal...

"Vamos voar! Vamos voar vamos voar vamos voar!"

Inversion no entanto não pode ser perdoado por duas falhas que tiram boa parte da diversão do jogo. Primeiro que, durante 90% do game você vai estar enfrentando inimigos à distância, correndo atrás de cobertura e usando os poderes de mudar gravidade (que funcionam bem à distância e quando se tem tempo para escolher os objetos que você quer arremessar...), mas na hora de enfrentar os chefões, o jogo opta pela velha idéia de colocar você em uma arena, pequena, fechada e com oponentes que atacam de perto. É difícil de se mover, é difícil de ver quem está te atacando e é fácil você morrer simplesmente por não ter percebido que tinha alguém atrás do seu personagem... fora do seu campo de visão.

Isso não seria nem tão ruim, não fosse o sistema de autosave do jogo, que sempre salva bem antes dos lugares onde tem lutas com chefes, locais onde ocorrem game over automático ou coisas assim... e sempre antes das cutscenes. Ou seja, a cada luta com chefe o seu jogo se resume ao esquema: morrer por não conseguir ver, mirar ou se mover direito na arena, dar reload, andar boa parte da fase, inciar a mesma cutscene que você já viu trocentas vezes, dar skip na cutscene, entrar na arena, ver o chefão fazer alguma firula antes da luta começar, morrer por não conseguir ver, mirar ou se mover direito na arena...

Custava um sistema de fast save e fast load? Ou o autosave salvar antes da luta com os chefes ou dos lugares em que há game over automático, e não antes de cutscene? E por qual motivo colocar as lutas com chefes em arenas? Em que ano estamos? 1994?!

Morreu para esse cara? Hora de ver filminho pela trocentésima vez!

No fim das contas, Inversion é um jogo... hummm... mediano. Se você gosta de Gears of War e mal pode esperar o próximo game da série, pode se divertir bastante com esse (até os buracos de onde saem inimigos e que são destruídos com granadas tem aqui!), mas no geral tem gosto de marmita requentada, é muito derivativo e os personagens principais são tão chatos que logo você vai torcer para o tal Russel achar a cabeça da filha dele pendurada em uma árvore ou poste só para ele parar de falar nessa pirralha...

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