Quando saiu o primeiro jogo da série Tomb Raider, na época em que games tridimensionais estavam começando a surgir no mercado, o que mais chamava a atenção era sua protagonista, a arqueóloga Lara Croft, que por um erro de digitação dos programadores ganhou peitos cônicos imensos e fez a alegria dos gamers dos anos 90.
No entanto a série vinha envelhecendo a olhos vistos. Baseada quase que exclusivamente na beleza da protagonista, sem uma jogabilidade boa e sem narrativa que fosse realmente importante, a série estava em franca decadência, isso até a Square Enix resolver mudar um pouco os rumos e dar um reboot na história de Lara.
O novo Tomb Raider começa com a jovem Lara Croft e um time de arqueólogos navegando pelo Mar do Japão, em busca de uma ilha mística chamada Yamatai, onde, segundo a lenda, viveu uma imperatriz capaz de controlar o clima e criar imensas tempestades. Eis que o navio de Lara ingressa no Triângulo do Dragão, uma região turbulenta do Mar do Japão onde navios costumam a desaparecer, e sofre um naufrágio.
No entanto, esqueça a (extremamente peituda e) badass e habilidosa Lara Croft dos games anteriores, aqui ela ainda é uma garota tímida, meio nerd, assombrada pelo desaparecimento de seu pai e seguindo um arqueólogo mais experiente em sua pesquisa. Na ilha a pobre mocinha vai comer o pão que o capiroto amassou, tendo que se virar pra arrumar comida, tratar ferimentos e enfrentar um bando de naufrágos malucos que adoram a tal imperatriz das lendas.
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"Nossa! Cheguei na ilha do Lost!" |
Para quem já saltou de um lado para o outro com a Lara Croft dos antigos Tomb Raiders, muita coisa parece familiar, das armas (pistola, escopeta, fuzil...) aos movimentos, porém tudo foi bastante melhorado para se adequar aos novos tempos.
As armas possibilitam inúmeras modificações, e novos equipamentos vão abrindo novos caminhos ao longo do jogo. Os controles estão precisos e muito bem feitos, possibilitando a protagonista saltar distâncias consideráveis e se esgueirar em quebra-cabeças tridimensionais que seriam desafiadores para Kratos ou os cavaleiros de Darksiders.
Ao invés das pistolas duplas dos outros games, a arma principal (e inicial) de Lara é um arco, que além de despachar inimigos com flechas normais ou explosivas, também pode prender cordas a postes, arrombar portas e até ser usado para enforcar inimigos desavisados.
Com tantas armas e recursos interessantes, Tomb Raider poderia ter desenrolado para um game de ação desmiolado no estilo de Dead Space 3... mas a Square Enix manteve as rédeas firmes e fez com que o jogo se tornasse uma maravilhosa aventura. Sim, há tiroteios, há sessões de stealth, quick-time events e áreas onde você tem que arrebentar ondas de inimigos antes de progredir, mas as partes mais desafiadoras e divertidas estão na exploração de tumbas, solução de puzzles, escaladas e jornadas espetaculares, seja na vertiginosa subida a uma antena de rádio extremamente alta e precária, seja nas jornadas por complexos de cavernas e rios.
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Apesar da ação, Tomb Raider ainda é um game de aventura, com belos locais para explorar |
Graficamente o jogo impressiona até quem está acostumado com os Crysis que tem por aí. Faces, roupas e sobretudo cabelos são cuidadosamente renderizados, e se você tem um PC poderoso, vale a pena comprar o jogo para rodar no computador. Um recurso extra disponível só nos PCs faz o jogo processar o movimento do cabelo de Lara Croft com uma exatidão incrível.
E não é só isso, vários detalhes foram observados, sobretudo na pele e roupas dos personagens. Ao longo do jogo, Lara vai ganhando lentamente arranhados, escoriações, cicatrizes e marcas extremamente realistas na pele. Areia, lama e pó se acumulam em sua roupa, equipamento e pele, assim como sangue e rasgos no tecido, dando uma atmosfera extremamente realista.
Embora não seja um game de "mundo aberto", estilo Skyrim ou Fallout, Tomb Raider tem áreas bastante grandes e muitas surpresas a se descobrir, animais para caçar, caixas para pilhar e tumbas a explorar. Para não fazer muito uso das terríveis paredes invisíveis, para delimitar as áreas, o cenário é focado em terrenos bastante acidentados, que podem ser visitados múltiplas vezes, e várias áreas que são acessíveis apenas com determinados equipamentos.
O cuidado com o som também merece menção. As dublagens estão excelentes, os diálogos são bem feitos e, embora todos os personagens falem inglês, os sotaques foram cuidadosamente observados. O som ambiente é muito bom, e efeitos de eco acentuam muito a qualidade do jogo.
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O arco de Lara Croft tem mais utilidades que o canivete do McGuyver! |
Se tem uma coisa da qual senti falta em Tomb Raider é de um desafio maior. Jogando no nível normal é bastante fácil, e até os níveis mais difíceis são fáceis de se terminar. Munição é abundante, pontos para melhorar as habilidades de Lara são fáceis de se conseguir e sucata para melhorar seus equipamentos pode ser encontrada em toda parte, de forma que bem antes do final do jogo você já terá acumulado todas as perícias, habilidades e upgrades para armas sem nem precisar se esforçar muito. Há pouca variedade de armas e inimigos, mas como a ação não é o foco desse jogo, não chega a ser um ponto muito negativo.
No final, Tomb Raider é uma experiência divertida, que vai agradar aqueles que querem visitar lugares exóticos, escalar construções precárias e recuperar relíquias, tudo em meio a uma narrativa bem feita e bastante interessante. A Square Enix poderia ter dado um foco maior na inexperiência da protagonista, que é pouco explorada, e no aspecto de sobrevivência (ao estilo de Fallout New Vegas ou Skyrim), dando mais importância à caça, abrigo e aquisição de itens para sobreviver, mas no geral é um excelente jogo, que vai te garantir muitas horas de diversão.