30 de dezembro de 2008

Spore (PC)

- Spore (PC) ***

A Maxis, desenvolvedora de games da EA, fez sua grande estréia no final dos anos 90 com The Sims. Ao contrário da maioria dos games, em The Sims não havia como "terminar" o jogo, ele era em tese, infinito.

Ao contrário da maioria dos games da época, que envolviam violência, destruição e guerra, The Sims era um game simples, onde você criava uma família virtual, arrumava emprego para eles e construia suas casas. O máximo de violência possível era colocar um Sim para nadar e tirar a escadinha da piscina, matando o coitado afogado...

Com isso o game conquistou um público que até então não se interessava por jogos, incluindo de crianças pequenas a mulheres de meia idade.

Há anos a Maxis vem anunciando sua obra-prima, um game infinitamente mais complexo. Com a recente polêmica nos Estados Unidos envolvendo a teoria da evolução de Darwin, a EA resolveu comprar a briga e lançar Spore, um game onde você controla a evolução, desde uma célula até uma civilização na era espacial.

Evolução

Ao invés de uma família humana, em Spore você traça toda a linha da evolução. O game inicia com você sendo uma única célula em um oceano primitivo cheio de predadores, presas e comida. A cada alimento absorvido, você ganha pontos de DNA para "comprar" evoluções para sua criatura.

Aos poucos sua célula pode se tornar um tipo de peixe complexo, e, quando tiver DNA o bastante, uma criatura bípede.

Daí em diante seu desafio é sobreviver a uma selva pré-histórica cheia de monstros até acomular "pontos de civilização", adquiridos ao destruir outras raças ou fazer amizade com elas, o bastante para passar para o próximo nível da sua evolução, como uma raça civilizada, ainda que primitiva.

Neste ponto você precisa caçar, coletar recursos, desenvolver tecnologia (leia-se instrumentos de ossos, machados de pedra e lanças rústicas) e conquistar ou se aliar aos outros povos.

Quando não houverem mais povos com os quais você não tenha se relacionado, você entra em outra fase, a da civilização evoluída, com veículos de combate e aviões, explorando recursos naturais e tentando converter, comprar ou destruir seus oponentes no planeta.

Ao conquistar o planeta onde você está, tem início a parte mais duradoura (virtualmente infinita, como em The Sims) do game, a exploração espacial, onde você controla uma nave pelo espaço de Spore, fazendo comércio, alianças e destruindo seus oponentes em outros mundos.

O ponto mais positivo sobre Spore diz respeito à customização de seus elementos. Nas duas primeiras partes do jogo você pode construir, virtualmente do nada, sua "raça". Praticamente qualquer coisa que você imaginar pode ser feita no game. Serpentes de quatro braços, dinossauros, homens-lagarto, cíclopes... O mecanismo de criar criaturas é bastante complexo e muito detalhado, permitindo criar muita coisa com apenas alguns cliques e muita imaginação.

Depois que sua raça se torna uma civilização, não se pode mais alterar sua forma física, mas abrem-se mais possibilidades para customização. Você pode construir as roupas de sua raça, customizar suas construções, suas naves, veiculos, navios, aviões...

E realmente esta é a parte mais divertida e viciante de Spore. Sempre há novas partes a serem acrescentadas, novos detalhes a serem criados, armas, hélices, asas, rodas... As possibilidades beiram o infinito.

As suas ações também ajudam a moldar sua raça. Se você é um predador belicista que ataca todo e qualquer ser que encontra, prepare-se para ter à sua disposição um amplo arsenal bélico que inclui mísseis, ICBMs e bombas atômicas. Se você é amigável e prefere fazer amizade com outras raças, dançando e cantando para elas, seus bônus serão bem diferentes.

Esporos

Embora extremamente viciante e divertido, Spore tem algumas desvantagens. A principal dela é a infantilidade excessiva do jogo. Desenvolvido com um olho na educação científica sobre a teoria da evolução de Darwin, o game se tornou muito voltado para crianças em idade escolar.

Por mais que o criador de criaturas seja complexo, todos os seres gerados lá ficam... como dizer... fofinhos. Sim, se você pensou em construir aberrações do estilo do Alien ou do Predador, prepare-se para vê-los em versões fofas, quase caricaturais.

Se você tentar construir seres humanos então, provavelmente irá rolar de rir, de tão caricaturais que eles ficam.

Spore tem um suporte de internet que permite que você acese os universos de outros jogadores e interaja com as raças criadas por eles, mas caso jogue sem internet, você irá se deparar apenas com as criações do estúdio Maxis, e é ai que mora a bizarrice. Macacos com mãos enormes, lesmas com "carinhas felizes", bolas cheias de olhos, esquilos engraçados... Praticamente não existe nada tosco demais para não constar em Spore.

O modo "amigável" também é bastante ridículo. Para se aliar à outras raças, você precisa dançar, cantar, tocar instrumentos musicais e coisas assim... E as tais raças são bem enjoadas quanto a seus gostos. Prepare-se para ser ignorado, mesmo em superioridade numérica ou tecnológica, caso não tenha cornetas de ossos ou não saiba cantar bem... Os alienígenas de Spore preferem ser extintos do que se aliar a uma criatura que não saiba, por exemplo, pular ou fazer pose.

Outro ponto negativo é o fato do game ser muito "curto", embora virtualmente infinito. As fases anteriores à conquista do espaço podem ser terminadas em apenas alguns minutos, sendo que algumas mal duram meia hora para serem batidas. O foco de Spore parece ser mesmo a exploração espacial, mas a fase de evolução das criaturas é tão divertida que se torna decepcionante quando você vê que já passou dela em tão pouco tempo.

Os gráficos são apenas razoáveis. Para usar os gráficos no máximo você vai precisar de uma máquina muito, muito poderosa. Com um computador bom dá para apreciar os gráficos medianos, que não são lá grande coisa...

O som é realmente um ponto negativo importante. Nas fases de evolução de sua criatura, prepare-se para efeitos sonoros horrendos, sobretudo no que diz respeito aos guinchos que seus monstros soltam. São barulhinhos realmente pertubadores, algo próximo de unhas arranhando quadros negros. De preferência jogue com as caixas de som desligadas.

A trilha sonora também é ruim, na melhor das hipóteses. Após adquirir civilização, você pode "escolher" a trilha sonora de sua raça clicando em botões em um painel de customização. Acontece que a maioria dos botões é mal feita, e não se tem a mínima idéia do que significam. É um desagradável exercício de "chutometria".

De uma maneira geral, Spore é um game tosco, mas o nível de customização e a liberdade de construir seus próprios monstros, ainda que com cara de Pokemons e Digimons, é cativante, e a jogabilidade é bastante amigável, proporcionando horas e horas de diversão viciante pelo espaço bizarro da Maxis, logo após alguns minutos brincando de Darwin...

Se você gosta de criaturinhas fofinhas, vai se divertir criando elas e as colocando para dançar e cantar. Se você odeia criaturinhas desse tipo, vai se divertir mordendo e explodindo elas.



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