11 de março de 2009

Pirata ou não-pirata, eis a questão!


Pirata ou não-pirata, eis a questão!
por Orc Bruto

Desde a invenção dos games que existe pirataria. Eu ainda me lembro da época do Atari, do Nintendinho e do Super-Nintendo, aqueles arqueológicos consoles de videogame que ainda usavam cartucho para rodar os games, e já havia cartuchões piratas.

Uma volta pelos camelôs do centro da cidade já era o suficiente para se encontrar, por um preço absurdamente menor, todo tipo de cartucho. Um Legend of Zelda de Super Nintendo original podia bater no limite de 200 reais (na época em que o poder de compra do Real era muito maior do que hoje), enquanto nos camelôs saía por até 10% do preço...

Com a invenção dos games em CD, no entanto, a pirataria atingiu seu ápice. Enquanto falsificar um cartucho exigia matéria prima cara e difícil de se arranjar, muito conhecimento técnico e maquinário, CDs podem ser gravados rapidamente por qualquer mané.

Os consoles que usam CD, como o Playstation, e os de DVD, como o PS2, foram os que mais receberam falsificações para eles. O PC também é recordista em softwares e games piratas. A razão disso é sempre a mesma, o preço abusivo dos produtos originais, a má qualidade dos mesmos e a facilidade do acesso...

O Pirata

Piratear software e games é considerado crime no Brasil. Comprar produto pirata também. A maior parte das pessoas não sabem, mas comprar jogo pirata pode dar cadeia e multa. Isso teoricamente. O crime de pirataria é um dos mais tolerados no país. Praticamente em qualquer grande capital é possível se encontrar camelôs vendendo DVDs e games falsos. Anúncios em jornal são comuns, onde piratas vendem seus produtos e "gravam" qualquer software ou game pedido. No interior a coisa é ainda pior. DVDs piratas são vendidos de bandeija em qualquer feira popular, nas praças centrais e até em bancas de revistas, muitas vezes nas barbas da polícia.

Mas qual o motivo dessa tolerância? No que diz respeito aos games, talvez pese na balança a considerada "injustiça" dos produtos originais.

Um game original normalmente sai por um preço assustadoramente alto, principalmente se for lançamento. Games que custam 19 dólares ou menos chegam ao Brasil, devido aos impostos e transporte, por preços abusivos que muitas vezes passam dos 100 reais. Pode não parecer, mas 100 reais no Brasil hoje são quase 25% - um quarto - do salário mínimo.

Games para PC saem mais barato em comparação aos de outros consoles. Novidades como Spore, Crysis e Mirror's Edge ficam "apenas" por cem reais ou um pouco mais. Games de PS2, um console que já está ficando ultrapassado, costumam custar o dobro deste valor, isso mesmo quando não são nem lançamentos, como God of War ou The Godfather...

Para os consoles da nova geração, os jogos são ainda mais salgados. Alguns passam o valor do salário mínimo brasileiro.

Em contrapartida com o preço absurdo, os games originais oferecem "suporte técnico" e "garantia". No entanto isso não se aplica na prática. Em toda caixa de games originais tem uma notinha, em letras microscópicas "Não garantimos a compatibilidade com todos os sistemas". Isso é uma armadilha legal para o comprador não ganhar nem a pretensa "garantia" nem o "suporte técnico".

Já aconteceu comigo de comprar um game original (Revenant, um RPG mais antigo) cujo meu PC atendia todos os pré-requisitos. O game não só não funcionou como também provocou problemas na minha máquina. Ao tentar trocar o produto na loja eu recebi apenas a resposta "Desculpe, mas você vai ter que contactar o fabricante", e, ao ligar no "suporte técnico gratuito" (que por sinal não era 0800) fui surpreendido com "Não garantimos a compatibilidade com todos os sistemas, tenha um bom dia!".

No outro lado da moeda, os camelôs são sempre atenciosos com o cliente e dão garantia de verdade de seus produtos. Além de cobrarem preços significativamente menores pelo mesmo game...

Assim fica o comprador no Brasil. De um lado o game original, caríssimo e sem qualidade, do outro o produto "alternativo", baratíssimo e passível de ser trocado ou devolvido caso não funcione. E a pirataria é cada vez mais estimulada.

A indústria contra a pirataria

Diante desse cenário, comum não só no Brasil mas em grande parte do mundo, a indústria de games tem tentado de tudo para desestimular, ou pelo menos barrar, o avanço da pirataria.

-CD Key /Serial:

O que é:
O CD Key ou Serial é um código composto de números e letras que deve ser digitado para permitir a instalação do game. Em produtos originais ele vem normalmente no manual ou na caixa do mesmo.

Vantagens: Teoricamente, o produto pirata não vem com caixa ou manual original, e portanto o CD key seria uma forma de barrar o pirata.

Desvantagens: Além de levantar suspeita contra o cara que gastou o olho da cara para comprar o game original, os tais códigos são fáceis de se perder, principalmente porque vêm grudados em partes do game consideradas lixo (a caixa) ou raramente usadas (o manual). Quem é o obsessivo-compulsivo que guarda TODOS os manuais e caixas de TODOS os seus games?

Na prática: O CD Key/ Serial só serve mesmo para tornar mais demorado a instalação de games. Há centenas de sites na internet disponibilizando estes códigos, e muitos piratas já os incluem em seus produtos. O sujeito que compra CD original, se (ou melhor, quando) perder seu código, é obrigado a recorrer à pirataria para poder instalar seu game...

- Proteção interna da programação

O que é:
O programa reconhece se o disco original está inserido na unidade de CD/DVD-rom e impede a inicialização do game caso não encontre o disco.

Vantagens: Presente em praticamente todos os games hoje, principalmente os de PC, esse mecanismo obriga o jogador a manter o disco original dentro do driver, mesmo que este não seja usado pelo computador para rodar o jogo. Impede, por exemplo, que vários amigos se juntem, comprem um único jogo e instalem o mesmo em vários computadores. Ele só funciona com o disco.

Desvantagens: Para o jogador que adquire o disco original, o único problema é ficar com o driver ocupado durante o game. Isso pode diminuir a velocidade do computador enquanto o jogo verifica a autenticidade do disco. Também não é possível se instalar e jogar em mais de uma máquina.

Na prática: A proteçao da programação não é resistente contra os piratas. Os chamados "Crackers", programadores especializados em ultrapassar essas proteções, costumam desenvolver programas pequenos, chamados "cracks" que enganam a proteção, fazendo de conta que há um disco original no PC. Praticamente todo game pirata hoje em dia já vem "crackeado".

- Proteção do Drive de Disco

O que é: Funciona como a anterior, mas o drive é que é programado para reconhecer o game original. É a utilizada no Xbox 360.

Vantagens: Você não precisa ficar protegendo todos os games. Basta fazer isso uma vez só na máquina a ser utilizada.

Desvantagens: A máquina não vai poder rodar jogos piratas.

Na prática: Ainda mais fácil de "crackear". Os piratas baixam um "crack" na unidade de disco e pronto, problema resolvido!

- Certificação pela Internet

O que é:
Presente na maioria dos games para PC atuais, e em programas como o Photoshop CS4. O programa "entra" na internet e "dedura" para o fabricante que você está utilizando ele e qual foi o CD key/ serial utilizado na instalação, onde você está no mundo e qual o número de série do programa. Se as especificações não baterem, o fabricante "trava" o programa na sua máquina.

Vantagens: É estremamente difícil de driblar, uma vez que o programa notifica a fabricante diretamente e trava caso essa notificação seja impedida.

Desvantagens: Ter o fabricante do programa "fuçando" na sua máquina. Se você comprar o game em outro país, pode ter dificuldades, assim como se perder o serial ou se baixar "add-ons" ou "mods" que não são originais. Se você não tiver internet, não pode jogar o game, nem offline...

Na prática: É uma solução extrema e muito impopular. Se você estiver sem internet, não vai poder rodar o jogo pelo qual você pagou caro. Há alguns "crackers" tentando driblar essa proteção com "cracks" especiais que "mentiriam" para os fabricantes sobre a originalidade do game. Há receitas caseiras para se desligar a certificação, mexendo em arquivos .sys do windows, mas elas podem gerar instabilidade no sistema todo.

- Reconhecimento por Chip
O que é:
O console é programado para reconhecer games originais e barrar os não originais. É o método empregado no PS2 e no PS3.

Vantagens: Não tem como resolver sem o pirata ter que desembolsar uma boa grana e adquirir conhecimentos de engenharia de hardware. Softwares como "crackers" são inúteis contra esse método.

Desvantagens: O console não roda disco pirata.

Na Prática: O PS2 foi destravado com sucesso à vários anos. O PS3 só não foi destravado ainda por ser um console caro e pouco popular, o esforço simplesmente não compensa. Para "destravar" os consoles é necessário a colocação de um chip que impede o reconhecimento dos discos piratas, no entanto estes chips podem sobrecarregar a máquina, e é recomendável deixá-la fora da tomada quando não estiver sendo usada, para evitar a sobrecarga e derretimento do chip.

- Conteúdo Exclusivo

O que é:
O game original vem com "brindes" que justificam seu preço. Command & Conquer Red Alert 3, por exemplo, trás bonés, camisetas, posters, chaveiros, etc etc... Outros games vêm com gibis, álbuns, papéis de parede, personagens, itens e etc a ser baixado do site do fabricante. Outros ainda trazem modos de jogo especiais que só funcionam se o game estiver com o serial cadastrado no portal do fabricante, como Spore e Left 4 Dead.

Vantagens: Muitas. Além de ganhar um monte de badulaques que farão a alegria dos fãs, os compradores do original ainda recebem modos exlcusivos de jogo. Quem comprou o produto pirata e gostou pode ser seduzido a comprar o original para ter acesso a esses "exclusivos".

Desvantagens: Nem tudo agrada a todos. Imagine se você é um sujeito imensamente gordo e não cabe na camiseta que veio junto com o game? Ou se o jogo é ruim e você, além de gastar a maior grana ainda acaba cheio de lembrancinhas dele? Os conteúdos baixados de site ou acessados pela internet ficam restritos aos compradores que possuem internet.

Na prática: O oferecimento de brindes é uma boa compensação para o indivíduo que comprou o game original, mas pode ser uma fria para as empresas, principalmente se elas tiverem que aumentar o preço dos games para poderem pagar todas as "lembrancinhas". De todos os métodos é o menos invasivo e com mais possibilidades de atrair os compradores de games piratas, uma vez que trata o jogador com prêmios ao invés de suspeitas e não interfere na execução do jogo.

Verdades e mentiras sobre a Pirataria:

- A pirataria tira parte importante do lucro das empresas, e com isso elas acabam falindo e no fim temos menos games lançados a cada ano.

Mentira. Sim, a pirataria tira uma grande parte do lucro das empresas, mas o setor de games não está nem perto desta crise catastrófica que é anunciada por muitos. Pelo contrário. Hoje o mercado de games é o que mais fatura em todo o mundo. Desde o ano 2000 que o mercado de games tem faturado mais que o de cinema, e mais até do que mercados ilegais, como o de tráfico de drogas e armas.

Fora o fato de que é um mercado que gasta muito pouco para produzir um game. Pagar algumas dezenas de designers, programadores e desenhistas para fazer um jogo é infinitamente mais barato do que desembolsar milhões de dólares para as locações, materiais, atores e roteiristas que são necessários para se fazer um filme. Grandes produções de Hollywood hoje tem orçamentos de centenas de milhões de dólares, enquanto games famosos como God of War não saem nem por 10% destes valores e ainda lucram muito mais.

- A pirataria prejudica o país, pois não são arrecadados impostos sobre produtos piratas.

Verdade. Não só o país, mas muitas lojas e empresas que vendem os produtos originais. A carga de impostos no Brasil é uma das maiores do mundo, e se os produtos originais não são comprados as lojas simplesmente não conseguem se manter e acabam fechando, gerando mais desemprego.

Se você compra produtos piratas, você está contribuindo para o aumento do desemprego no Brasil. E o que o governo não arrecadou com as lojas que fecharam vai ser respassado para outros setores. Ou seja, você também está contribuindo para o aumento dos impostos. Triste mas verdadeiro...

"Baixar" games na internet é crime, e corresponde à pirataria.

Nem sempre. Na verdade este assunto é um atoleiro jurídico. As leis no Brasil costumam levar décadas para serem mudadas, quando não levam séculos, e a tecnologia, ao contrário delas, muda o tempo todo.

Se caracteriza como crime o lucro sobre o produto pirata. Teoricamente quando um camelô vende um jogo pirata ele está ganhando dinheiro às custas do trabalho de outras pessoas, e está cometendo o crime fiscal de não pagar os impostos sobre a venda do produto. No entanto, quando você faz um download de um game para uso próprio, sem ganhar um tostão com ele, você, em tese, não está cometendo nenhum destes crimes...

No entanto, o fabricante também não está recebendo sua contrapartida do game que produziu. Ou seja, você está, tecnicamente, usufruindo de um bem sem pagar por ele. Mas se você for na casa de um amigo e jogar um game que ele tenha, você também está usufruindo de um bem sem pagar. E isso não é crime.

Baixar games da internet, no melhor dos casos, pode ser considerado anti-ético, mas não há punição e, na maioria dos casos, a fabricante nem mesmo fica sabendo quem baixou ou não o game...

- A pirataria sempre é prejudicial ao fabricante.

Mentira. Muitas vezes o que acontece é o inverso, a pirataria muitas vezes impulsiona o mercado legal, sobretudo no caso dos games.

Nos anos 90 o Playstation bateu todos os outros consoles não por sua qualidade, mas pela facilidade de se adquirir games para ele. Enquanto os jogos de Nintendo 64 custavam muito caro e eram difíceis de se piratear, os games de Playstation eram caros mas fáceis de se encontrar no mercado "paralelo". Como os piratas não davam conta de fabricar o console da Sony, a empresa acabou lucrando com a venda dos consoles para serem usados com games piratas.

O PS2 desbloqueado também bateu seus concorrentes, como o Xbox, e se tornou o console dominante até pouco tempo atrás. Hoje, a Microsoft já percebeu a mina de ouro, e o Xbox 360, fácil de "crackear", já bateu longe a venda dos PS3 da Sony.

A Microsoft é uma das empresas que mais lucra com a pirataria. A grande maioria dos computadores do mundo usa algum sistema operacional Windows pirata. O que a empresa do Bill Gates não vende de Windows originais (absurdamente caros), ela recupera com produtos exclusivos para... windows! Não é incomum encontrar computadores com Windows pirata e Office original, por exemplo.

Jogos com a tarja "Game for Windows", por exemplo, tem que pagar uma taxa para a Microsoft, e por serem relativamente baratos lá fora, acabam fazendo a empresa do Bill Gates recuperar o que não ganha com a pirataria.

O Blog da Resenha e a Pirataria

Nós, do Blog da Resenha, não apoiamos a pirataria. Comprar e vender discos de games sem pagar impostos para o governo prejudica as lojas que vendem os produtos originais, aumenta o desemprego e a carga tributária.

No entanto, há alternativas à pirataria e ao altíssimo preço dos games originais:

- Relançamentos:

Se você tem paciência, o melhor negócio é esperar. Lançamentos de games costumam custar os olhos da cara, mas o preço cai rapidamente. Muitas vezes cai pela metade em apenas alguns meses.

Games que já foram caríssimos, como Star Wars Galatic Battlegrounds e Resident Evil 4 podem, hoje, ser comprados por até 20 reais, relançados nas prateleiras ou em revistas como a Fullgames. No entanto o relançamento pode levar vários anos ou alguns meses, dependendo do número de pedidos nas revistas ou da venda dos produtos.

- Test Drive:

Que tal jogar de graça os games mais atuais? Muitas vezes a própria fabricante disponibiliza para download demos (abreviação de "demonstração" - Demonstration em inglês - partes de games, normalmente com apenas algumas fases ou sem alguns recursos do game original), trials (versões completas que podem ser testadas dentro de um espaço de tempo, normalmente 30 dias) e até mesmo freewares dos jogos mais recentes.

Vale a pena visitar o portal da fabricante do game que você deseja para ver se há alguma coisa deste tipo. No caso de games multiplayer, também é comum encontrar versões gratuitas nos portais das empresas para download.

O lado bom é que você passa a conhecer melhor o jogo, e se você se decepcionar, não vai ter pagado nada por isso.

- Lan House

As chamadas Lan Houses se tornaram quase uma mania no Brasil. Muitas delas dispõe de games de última geração, como Left 4 Dead, Crysis, FarCry 2 e GTA 4. Há até mesmo Lan Houses com consoles de videogame ao invés de apenas PCs.

Embora nem sempre sejam um bom negócio, devido ao preço pago por hora, a maioria delas tem promoções para horários "alternativos", pela manhã, noite ou madrugada. Os chamados "corujões" são uma boa oportunidade para jogar, por dez reais ou menos, um game que na loja custa mais de 100 paus.

2 comentários:

  1. Anônimo9:43 PM

    ótimo tópico, excelente!!! meus parabéns

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  2. Anônimo10:41 PM

    Realmente esse tópico é muito bom.O que ficou claro é a mais pura verdade,os produtos originais são muito caros.Eu não defendo a pirataria mas,nós brasileiros não podemos continuar a pagar preços tão altos por produtos originais.

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