- Doom 3 (Xbox, PC) (****)
Quando o computador ainda era um objeto de luxo, na distante época onde pessoas de todas as idades faziam cursos de informática para aprender a ligar a máquina e usar o mouse, surgiram os primeiros shooters para PC.
O ancestral de todos foi Wolfenstein, um shooter ambientado na segunda guerra mundial, onde você atirava em nazistas feitos de quadradinhos. O mais famoso shooter, no entanto, foi Doom.
Na época em que foi lançado, no começo dos anos 1990, Doom foi extremamente polêmico. Com uma narrativa que misturava demônios, ficção científica, ocultismo e violência, o game foi acusado de tudo o que hoje sofrem jogos como Counter Strike. Ele foi responsabilizado por massacres em escolas americanas, foi acusado de incentivar o satanismo, de roubar almas, de corromper os jovens e mais um monte de besteiras nonsense.
Após duas sequências (Doom2 e Ultimate Doom), a produtora Id Games resolveu dar um basta na série e investir em títulos mais... digamos, leves, como Quake.
Eis que quase uma década depois surge Doom 3, um remake bastante competente do game original.
Desgraça
A palavra Doom pode ser traduzida de muitas formas. Devastação, destruição, profanação ou, o mais próximo, desgraça. E o game trás isso ao pé da letra.
A narrativa, que já rendeu um filme surpreendentemente bom, com The Rock, conta a história de um futuro distante, onde viagens espaciais e armas de raios são coisas mais ou menos comuns. Uma mega-corporação que fabrica de naves espaciais a armamento resolveu estander suas pesquisas ao mundo da física quântica, mais especificamente, à tecnologia da teletransportação de matéria.
Embora os humanos já tivessem naves espaciais mais confiáveis e seguras do que os foguetes de nossos dias, viagens especiais ainda levavam muito, mais muito tempo mesmo. Se fosse descoberta uma forma de criar portais quânticos, seria teoricamente possível transportar naves, pessoas e suprimentos para qualquer lugar do universo em milésimos de segundo.
Por medidas de segurança, os experimentos foram transferidos para Marte, onde a corporação possui uma gigantesca colônia. Assim, se algo der errado, não afetaria os grandes executivos sediados na Terra.
Isso pelo menos é o que seu personagem acredita ser verdade quando é transferido para a base de Marte, a fim de trabalhar como segurança no local.
Como todo bom filme de ação e ficção científica, tudo deu errado. O que aparentemente era um experimento de teletransporte acabou abrindo um portal para outra dimensão. Aparentemente, o inferno bíblico, liberando demônios, almas penadas e tudo mais sobre o planeta vermelho. E você perdido no meio dessa muvuca...
Doom 3 tem gráficos primorosos. Quando foi lançado, não chegou a fazer muito sucesso por causa de um detalhe técnico, era tão avançado que a maioria dos computadores da época não conseguiam sequer rodar o jogo. A interação luz e sombra beira a perfeição e, a menos que você tenha a expansão Ressurection of Evil, que trás lanternas acopladas às armas, você não poderá utilizar uma arma e manter uma fonte de luz acesa ao mesmo tempo.
Os ambientes escuros são bastante detalhados, com luzes de máquinas, computadores, vindas dos olhos dos inimigos, fora a iluminação feita pelos disparos das armas. Os monstros são reedições dos clássicos de Doom, com algumas bem vindas adições. Todos são extremamente detalhados e, para o desespero do jogador, surgem por todos os lados o tempo todo, teleportando-se, arrebentando paredes, abrindo portas ocultas ou passando por frestas no teto.
Felizmente o som também é um ponto forte de Doom3. A trilha sonora varia do Heavy Metal ao som ambiente das inúmeras máquinas pesadas dentro das instalações marcianas. Os efeitos sonoros são muito bem feitos, e você precisa prestar bastante atenção nos rosnados dos demônios para saber onde exatamente eles estão. Pelo som dá para saber se estão atrás de uma porta, de uma parede ou nas suas costas.
A interface é bem feita, e muitas vezes lembra o mais recente Dead Space, com arquivos de som perdidos pela fase que revelam a história anterior da base, a paranóia dos operários e as tramas e subtramas que rolavam no local antes do acidente. É possível também ler "e-mails" de outros personagens do jogo, normalmente repletos de spams (é, mesmo no futuro eles ainda vão existir) e senhas para armários ou portas.
Doom 3 é um excelente jogo de ação, mas hoje em dia soa um pouco antiquado. Os encontros com os monstros são pré-determinados, de forma que certo monstro sempre aparece quando você chega em certo local. Perto de shooters como S.T.A.L.K.E.R. e Fallout 3, onde os inimigos "andam" pelo cenário e te caçam, com excelente inteligência artificial, os monstros de Doom 3 são bastante previsíveis.
O armamento também decepciona. Ao longo do jogo você encontra filmes sobre as armas, como elas foram desenvolvidas, o poder de fogo delas e etc. Ao ver um desses filmes você até fica entusiasmado com tal arma... até descobrir que é necessário gastar um cartucho inteiro da mesma apenas para derrubar um simples humano. A maioria das armas são extremamente pouco efetivas, e é necessário dezenas de tiros para se livrar dos monstros mais "fracos".
Sem o pacote de expanção, Doom 3 tem um problema adicional. Não é possível usar uma arma e uma lanterna ao mesmo tempo. A lanterna disponível para o jogador é um trambolho enorme, tão grande e pesada que pode ser usada como arma de ataque corpo-a-corpo. Trocar lanterna e arma o tempo todo é chato, e muitas vezes vai fazer você morrer cedo, uma vez que inimigos surgem de todos os lados o tempo todo. A expansão resolve isso, felizmente, mas ainda assim há alguns bugs na iluminação da lanterna. Se você chegar muito perto de uma parede, por exemplo, ela "apaga", mesmo que você não encoste na parede. Em locais escuros e estreitos isso é problemático.
A narrativa também tem dificuldades em empolgar. Doom 3 falha bastante em criar um "clima". Muitas vezes fica perdido entre a ação desmiolada e o terror bem construido de um Dead Space ou Resident Evil. É mais fácil ficar paranóico, andando de "marcha ré", mirando qualquer buraco nas paredes e jogando granadas em cada porta, do que ficar realmente com medo. O pouco poder de fogo a seu dispor deixa o jogador cuidadoso com o que for enfrentar, e a munição escassa também desagrada quem gosta de um shooter estilo "atire em tudo o que se move".
O ambiente da base é bastante linear e extremamente claustrofóbico. Na maior parte do tempo você estará apenas andando para a frente e atirando em criaturas que brotam de todos os lados. Os puzzles são poucos, mas bem feitos, que nem a parte onde você tem que operar um guindaste para se livrar de barris de lixo tóxico. Não há nenhuma fase "broxante", como a dos meteoros de Dead Space, e as lutas com os chefões são bem feitas, embora você possa fazer pouco além de descarregar todas as suas armas em cima deles e rezar.
Embora ainda tenha referências ocultistas, Doom 3 não provocou maiores alardes. Depois de games como Requiem Avenging Angel, Hellgate London e Diablo, as referências de Doom não chocam tanto os puritanos. Ao contrário, elas parecem até inocentes perto de outros jogos atuais...
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