Jogos de RTS te fazem se sentir um deus? Mandando um monte de soldadinhos para encontrar a morte certa, sem que eles questionem suas ordens? Arrasando cidades? Construindo prédios muitas vezes do nada, usando apenas pedra, madeira, ouro e comida?
Eis que a Lionhead e a EA Games tiveram a idéia de trazer um pouco mais dessa sensação para os RTS, com o primeiro Black & White. A premissa deve ter gerado muita confusão com os extremistas religiosos, afinal, no jogo, você faria literalmente o papel de um deus.
Apesar de original, o primeiro Black & White tinha bastante falhas, incluindo sua impossibilidade de criar um exército. Seu "povo escolhido" era sempre pacífico, manso, ficava lá, no canto deles, enquanto você tinha que fazer todo o trabalho pesado através de magia ou de sua criatura, um monstro gigante que te representava no mundo.
Eis que surge Black & White 2, com a mesma idéia, mas com novos recursos para te tornar um deus mais completo.
Preto no Branco (sem racismo e sem viadagem)
Vamos primeiro ao que Black & White 2 promete. Exércitos? Confere! Criaturas gigantes? Confere! Possibilidade de se tornar um deus bom ou mal? Confere! Unidades e construções que mudam de acordo com sua bondade ou maldade? Confere! Magias? Confere! Batalhas titânicas estilo Senhor dos Anéis e com criaturas no meio? Confere!
Como pode-se ver, Black & White 2 promete muito, mas cumpre pouco...
Há pouca mudança em relação ao primeiro Black & White no que diz respeito à jogabilidade. Seus fiéis ainda tem que explorar três recursos: grãos, madeira e pedras. Fiéis ainda visitam templos para lhe dar poder. Magias aumentam a produtividade dos campos, e você pode construir diversas estruturas usando seus poderes divinos ou colocando os seus fiéis para trabalhar.
A quantidade de estruturas aumentou bastante. Há diversos tipos diferentes de moradias, fora quartéis, templos, prisões, muralhas e castelos. A maior parte de seus poderes ainda é restrita à uma área em volta de onde moram seus fiéis. Fora do local onde eles te adoram você não pode mover objetos, lançar magias ou coisas assim.
Para interagir com essas áreas você tem as criaturas, monstros imensos que você cria e ensina, através de tapas ou afagos, o que eles podem ou não fazer. Estes monstros podem ser instigados contra seus inimigos ou usados para fazer trabalhos pesados, como de construção, colheita e corte de árvores.
E ainda há a dupla de um anjo velho e um diabo (extremamente engraçado) que brigam para te tornar um deus bom ou mal. Eles talvez sejam um alívio cômico necessário para um game extremamente estressante...
Os problemas de Black & White 2 começam nos controles. Como no game original, os controles de movimentação do Mouse são confusos e exagerados. Arrumar no menu Opções para o padrão "WSAD" ajuda bastante, mas os ângulos de visão são confusos, e o zoom costuma ou distanciar demais (sendo difícil ver as unidades) ou aproximar demais, perdendo-se a noção de espaço.
A Inteligência Artificial é extremamente capenga. O jogo não é realmente desafiador em nenhuma parte, e oscila entre um game de administração (estilo Caesar ou CivCity) ruim e um RTS bem tosco.
As opções de ser um deus maligno ou bondoso acabam se tornando ser um jogador masoquista ou não. Basicamente as ações cometidas contra seu "povo escolhido" pesam muito mais na sua "moral" do que as cometidas contra os de fora. Lá se vai a vontade de ser um Sauron da vida.
Tirando em miúdos, se você não constrói casas, não tem pessoal suficiente para formar um exército. Se você não formar um exército, não tem como invadir os inimigos e ganhar "maldade" e vencer a fase. Se você constrói casas, a quantidade de "bondade" que você ganha é muito maior do que a de "maldade" que ganharia por invadir os inimigos, e você acaba como um deus "bondoso".
Os exércitos também são decepcionantes. Basicamente você pode criar apenas arqueiros ou infantaria. Esperando batalhas sangrentas como em um Total War? Pode esperar sentado. As batalhas em Black & White 2 são mais similares aos desenhos animados de Asterix e Obelix do que a filmes como Coração Valente. Os soldados se acertam e um deles voa longe. Só isso.
O pior ainda é a campanha single player. A narrativa é a mais sem lógica possível. Imagine: gregos sendo atacados por astecas que querem dominar o mundo com ajuda de nórdicos e japoneses. Sentiu? É... saudades da família Black do Age of Empires III...
Ainda pior são os sons do jogo. Durante a campanha single-player você pode "ouvir" os pensamentos dos deuses seus inimigos. Na prática isso é um pé no saco, ficar ouvindo frases repetitivas tipo "Os astecas não consiguirão dominar o mundo enquanto os gregos ainda existirem" ou "Os gregos estão crescendo, vou fazer um exército". O pior é que são as mesmas frases, o tempo inteiro, de cinco em cinco segundos... Argh!
Os efeitos sonoros também são ruinzinhos, principalmente no grunhido das criaturas, que além de desagradáveis são agudos e bem chatinhos...
No mais, Black & White 2 é um game que precisa de paciência para ser jogado. Com o som desligado, de preferência...
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