18 de janeiro de 2013

Far Cry 3 (PC, Xbox360, PS3) (****)


Em um distante 2004, quase uma década atrás, games de FPS eram extremamente lineares, contando quase que com um script de cinema. Você podia fazer pouco mais do que seguir em frente a atirar em qualquer coisa que se move. Eis que a então recém-formada Crytek resolveu lançar um game com o estranho nome de Far Cry (Choro ou grito distante...).

Far Cry revolucionou o mundo dos FPS por adicionar boa dose de liberdade ao jogo. O game te dava um objetivo e deixava, na medida do possível para a época, que você fosse criativo, podendo se aproximar do objetivo pelo lado que preferir e da maneira que quiser, seja espreitando furtivamente e pregando facas nas costas dos alvos, seja pegando alvos à distância com rifles sniper ou mesmo dirigindo motocicletas e bugs para dentro da base inimiga e eliminando todo mundo na base das metralhadoras...

Quatro anos depois, Far Cry 2 trouxe ainda mais liberdade, com um mundo ainda mais aberto, animais selvagens e um sistema mais realista de fogo, permitindo que uma granada ou bomba colocasse a base inimiga em chamas rapidamente.

Far Cry 3 chega com o objetivo de colocar ambos os games anteriores no chinelo. Misturando elementos de RPG, muita liberdade de exploração, armas, equipamentos e muitas missões secundárias, ele vem sendo chamado, justamente, de "Skyrim com armas de fogo".

Tem horas que um Fus Ro Dah faz uma faltaaaa....

Como é esperado em um FPS, a narrativa de Far Cry 3 não é lá nenhuma obra de arte. Na verdade ela mistura duas idéias muito usadas (até bastante clichês) no cinema. Você joga com Jason Brody, um adolescente americano que viajou com os irmãos, namorada e os amigos para o sudeste asiático em férias, e resolvem saltar de paraquedas em uma ilha paradisíaca (aquela típica premissa do grupo de jovens americanos chapadões em um lugar isolado).

O problema é que a tal ilha não é muito amigável, e piratas, traficantes de drogas e guerrilheiros infestam o lugar. Jason e seus amigos são capturados para serem vendidos como escravos. Em um início que serve de tutorial, o protagonista e seu irmão mais velho fogem do acampamento pirata, e Jason vai parar nas mãos de Denis, um americano que mora entre os nativos.

O que se segue é bem previsível. Os nativos odeiam os piratas mas não conseguem se livrar deles, então o protagonista se apaixona por uma nativa que tem uma posição hierárquica importante e salva o dia fuzilando todos os inimigos dela, enquanto aprende algumas coisas sobre natureza e misticismo dos habitantes do local. Praticamente o mesmo enredo de Avatar, Ferngully, Dança com Lobos, Pocahontas e mais centenas de filmes de Hollywood.

Além de armas e veículos, Jason ganha dos nativos uma tatuagem no braço (o "Tatau"), que vai ficando cada vez maior e mais elaborada conforme ele elimina piratas, traficantes, mercenários e domina suas bases.

O plot é o mesmo de dezenas de filmes, mas a moça é bastante... hummm... simpática!

Em termos de jogabilidade, Far Cry 3 realmente bate todos os jogos anteriores. Aqui além de podermos pilotar inúmeros veículos (entre barcos, jet skis, carros, quadricíclos, caminhões, asas delta...) e empunhar diversas armas (pistolas, submetralhadoras, metralhadoras, fuzis, lançadores de granadas, escopetas, rifles e até um arco), ainda temos inúmeras novas atividades para fazer. Caçar animais, por exemplo, é divertido, desafiador e muito recompensador, sobretudo pelo fato do couro deles ser usado para fazer bolsas e pochetes para o protagonista carregar armas, munição e itens.

Além de caça (inclusive submarina) há atividades de tiro-ao-alvo, arremesso de facas, poker, corridas e aventuras secundárias bastante divertidas (incluindo algumas muito engraçadas como ajudar um sujeito com problemas de memória ou um esquizofrênico que acredita que alienígenas sequestraram sua filha...)

Fora essas atividades, o mapa é cheio de áreas habitadas pelos mais diversos animais, torres de telefonia (que liberam novas áreas do mapa para serem vistas no seu minimapa), ruínas da II Guerra Mundial com cartas de oficiais japoneses para serem encontradas, relíquias indígenas para serem resgatadas, laptops de traficantes com receitas de drogas para serem pilhados e bases inimigas que podem ser conquistadas.

Tudo é festa e diversão... Até alguém ser vendido como escravo no Yemen...

Uma coisa que eu criticava bastante em Far Cry 2 foi ajustada aqui. No jogo anterior da franquia, mesmo depois de você limpar uma base inimiga, novos adversários continuavam reaparecendo por lá, o que te atrapalhava a se movimentar pelo mapa (sobretudo quando o único caminho passava por numerosas bases) e tirava a sensação de estar realmente fazendo algum progresso no jogo. Aqui em Far Cry 3, cada nova área da ilha é pintada de vermelho no seu mapa, e nestes locais você tem maior probabilidade de topar com piratas e mercenários.

Após conquistar bases inimigas, seus amigos indígenas vão tomar conta delas e a área ficará marcada de verde, e dificilmente você irá encontrar algum pirata por lá. Nas bases você também pode comprar equipamento em máquinas automáticas de venda de armas (?!) e customizá-lo, colocando mira, silenciadores, munição extendida, pintando as armas...

A IA de Far Cry 3 é muito boa, e muita coisa acontece à sua volta a todo tempo. Uma volta rápida de carro e você verá nativos caçando, gente pedindo ajuda na beira da estrada com um carro saindo fumaça ao lado, piratas e nativos guerreando, animais selvagens, tigres caçando gazelas entre outras situações curiosas, que dão uma impressão de estar rodeado de um cenário rico e detalhado.

E claro, nada te impede de atropelar a fauna e a flora nativa...

Outros pequenos detalhes também contribuem para tornar Far Cry 3 extremamente fantástico. Os inimigos reagem de maneira crível, buscando refúgio e tentando te encontrar caso você mate algum deles silenciosamente, alguns entram em pânico e começam a atirar em volta. Animais podem ser libertados de gaiolas em algumas bases e atacam os piratas, enquanto outros simplesmente aparecem do nada para caçar alguns humanos. Árvores e arbustos não são imunes a dano como na maioria dos jogos, e uma arma de grosso calibre pode arrebentá-las facilmente.

Várias plantas também podem ser coletadas para fazer diversos medicamentos, que injetados podem aumentar sua percepção, ajudar a prender a respiração embaixo da água ou recuperar vida.

Graficamente Far Cry 3 é muito, muito bom. Apesar de alguns personagens, armas e objetos serem ligeiramente Cel Shaded, os gráficos em geral são bastante realistas, os objetos e seres vivos são bem modelados e a movimentação é bem feita.

É na parte sonora, no entanto, que o jogo faz sucesso. Os diálogos são bem feitos, os personagens são bem escritos e a dublagem é impecável, do lider pirata maluco Vaas ao químico Earnhardt, constantemente drogado.

A trilha sonora mistura músicas aborígenas com dubstep, Bob Marley, música clássica (A Cavalgada das Valquírias, de Wagner, em uma divertida alusão ao filme Apocalypse Now) e sons ambientes.

Piratas executando civis no meio do mato... o tipo de coisa que você encontra só de andar pela ilha...

Por falar em drogas, Far Cry 3 é um jogo extremamente adulto. Aqui a Ubisoft não teve qualquer pudor em incluir temas que normalmente não aparecem nos games. Tráficos de drogas, uso de entorpecentes, tortura, estupro, sexo e nudez. Durante o jogo o protagonista pode provar cogumelos alucinógenos e topar com plantações de maconha que, se forem queimadas, deixam a tela mais colorida e começam a tocar reggae...

Embora seja um game muito acima da média (arrisco dizer que muito melhor que Skyrim), Far Cry 3 tem alguns pontos negativos. Além do já infame sistema de proteção da Ubisoft, que atrapalha o sujeito honesto a jogar e não impede a pirataria (comprei o jogo original, mas tive que baixar o pirata para poder jogar até o final sem amolação...), o jogo ainda comete aquele pecado capital dos FPS, savepoints antes de cutscenes.

Isso é terrivelmente irritante, e principalmente nas últimas missões, onde você acaba morrendo várias vezes e sempre que recomeça, tem que ouvir a mesma ladainha e ver a mesma cutscene... Custava esperar a parte automática passar para colocar o savepoint, Crytek?!

Outra coisa estranha são as músicas de tensão que aparecem do nada. Normalmente quando você está apenas andando pela mata ou apreciando a paisagem, não há música de fundo. Mas de repente o jogo começa a tocar alguma música tensa sem nenhum animal, inimigo ou qualquer outra coisa por perto...

Também é estranho a Ubisoft ter eliminado mecânicas de Far Cry 2 que eram muito interessantes e poderiam ter sido aproveitadas aqui. O esquema das armas perderem a qualidade e passarem a travar era divertido e sempre forçava o jogador a comprar ou pilhar novas armas, mas não vemos nada parecido por aqui. É comum para quem gosta de ficar procurando itens no cenário acabar com a mochila cheia, a carteira cheia e sem absolutamente nada em que gastar dinheiro no jogo...

A mecânica de dia e noite também é bastante ruim comparada a Far Cry 2. Aqui os dias e noites duram pouco mais de meia hora... isso quando não passam horas sem a noite cair, sobretudo quando você está em missão. O protagonista também é incapaz de dormir, e as bases e casas seguras que você encontra pelo cenário acabam nem sendo tão úteis quanto no jogo anterior.

De modo geral, Far Cry 3 é um game excelente, principalmente para quem gostou da liberdade de Skyrim, adora coletar plantas, caçar animais, pilhar bandidos e ver boas (ótimas) atuações na dublagem e animação dos personagens. A narrativa é bem mediana e alguns pequenos defeitos impedem esse jogo de ganhar cinco asteriscos aqui, mas com certeza é um game bem viciante e extremamente divertido...



Um comentário:

  1. Resenha perfeita, aprendi um novo termo: "Cel shading", nem sabia da existencia dele, a unica coisa que nao gostei nesse jogo é a otimização, ja vi gente com Radeon 7970 pegando fps baixo com tudo no maximo ( na epoca do lançamento, nao sei se lançaram novos patchs ou drivers para o jogo. ).

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