Tanto no mundo dos games quanto no cinema, já se tornou quase uma regra. Sempre que o enredo se passa em uma distopia (contrário de utopia, um lugar ou futuro onde tudo deu errado para a humanidade), o mundo é mostrado como um local sombrio, cheio de lixo, nos moldes de Blade Runner, Akira, Fallout ou, na melhor das hipóteses, Waterworld.
É exatamente aí que Mirror's Edge inova. O futuro do game é brutal, regido por um governo totalitário estilo Big Brother (do livro 1984, de George Orwell, não o programa tosco da Globo), que vigia os cidadãos 24 horas por dia e reprime violentamente qualquer sinal de rebelião. No entanto, não é um futuro feio ou anti-estético. Os dias são brilhantemente claros, cores claras dominam a cena, prédios espelhados ou impecavelmente brancos brilham sob a luz. As pessoas são bem vestidas, tudo é impecavelmente limpo e bonito.
Bem vindo ao mundo de Mirror's Edge.
No mundo de Mirror's Edge, a sociedade é dominada pela tirania de um regime totalitário. Todas as ruas são constantemente vigiadas, todos os telefones são grampeados, e guardas armados atiram sem perguntar em qualquer um que pareça suspeito. Os opositores do regime, para se comunicarem, são obrigados a confiar em um sistema de correios feito pelos "runners" (corredores), especialistas em parcour (aquele esporte francês onde o pessoal pula muretas e corre em parques cheios de obstáculos) que pulam de prédio em prédio para levar armas, correspondências e segredos de um lado para o outro das cidades.
Você controla Faith, uma runner japonesinha extremamente gatinha. Depois que alguém mata um político influente e coloca a culpa na irmã da protagonista, você precisa correr contra o tempo para provar a inocência dela e achar o verdadeiro culpado.
O game é basicamente um bom e velho jogo de plataformas, estilo Super Mário Bros, onde é mais importante pular no local certo do que derrotar todos os inimigos. A maioria das missões se resumem em chegar a certo lugar sã e salva. O que é difícil, uma vez que você terá que saltar de prédio em prédio, escalar andaimes, se dependurar em cabos de energia, invadir prédios em obras e outras peripércias que lembram James Bond em Cassino Royale. Para piorar, na maioria das vezes você estará com a polícia em seu encalço, e muitas vezes até helicópteros estarão te procurando.
Os gráficos são simplesmente fora de série. Absurdamente bonitos, com uma ampla e movimentada cidade, vista de cima dos prédios. O cuidado com a visão da protagonista é extrema. Saia de um lugar escuro para o sol do meio-dia e sua visão ficará temporariamente desfocada. Dê uma cambalhota e veja o mundo girar a seu redor. Depois de correr muito, sua visão também ficará nublada.
A excelência gráfica se alia ao extremo cuidado com o som. Durante todo o jogo é possível ouvir a respiração de Faith, seus gemidos quando dá de cara com alguma parede ou gritos quando é fuzilada. O som ambiente é cristalino, com pássaros cantando, trânsito e barulhos de passos.
Além de gráficos e som excelentes, Mirror's Edge também tem controles simples e de rápida resposta. Tudo funciona muito tranquilamente, sem esforço desnecessário.
O lado ruim fica por conta do jogo em si. Na maioria das partes não há um caminho claro a ser seguido, e você vai ter que fazer inúmeras tentativas até achar os locais certos para serem percorridos. Um recurso chamado "Visão de corredor" te ajuda, marcando em vermelho objetos como cordas, escadas e plataformas, mas ainda resta saber onde ir para chegar até eles.
Se você não estiver preparado para morrer um sem número de vezes em cada fase, com certeza vai ficar irritado com o jogo. Cair de grandes alturas, ser fuzilado ou dar de cara com uma cerca eletrificada são coisas corriqueiras em Mirror's Edge, e você vai ter que gastar muito tempo e neurônios em várias tentativas e erros até terminar cada fase.
Como não é um shooter, Mirror's Edge tem um sistema de combate bem fraquinho. Faith é uma japinha magrinha e fraquinha, não um soldado anabolizado estilo Duke Nunken. Ou seja, lutar contra os inimigos, na maioria das vezes (e ao contrário do que mostra as imagens publicitárias do game) é suicídio. Com alguma destreza (e com a ajuda do recurso de câmera lenta) é possível desarmar a maior parte dos oponentes, e então usar a arma deles contra os próprios, no entanto, a falta de treinamento com armas de Faith faz com que os tiros sejam pouco precisos. Armas pesadas também impedem ela de se mover rápido ou escalar paredes. Se você estava procurando um shooter ou um Tomb Raider, desista. Faith não suporta meio segundo de tiroteio, nada comparado com os silicones à prova de balas de Lara Croft.
Mirror's Edge é uma verdadeira obra de arte. Bonito, bem feito, é divertido se você não se importa em morrer várias vezes por fase e voltar em savepoints longe de onde estava. Caso queira algo mais sanguinolento, combativo ou menos mortal, Mirror's Edge será uma tortura sem fim.
Perfeita descrição! Achei o jogo fantástico
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