14 de setembro de 2009

Stalker Shadow of Chernobyl (PC) (****)


Stalker: Shadow of Chernobyl (PC) (****)

Você já deve ter visto este game nas prateleiras de alguma loja. E provavelmente você não deu muita bola para ele. Sim, a capa "amarelona" é muito feia, mas não se deixe enganar, este é um dos shooters mais interessantes já feitos.

Se você tem mais de 23 anos, deve se lembrar do acidente nuclear de Chernobyl. Em 1986, alguns soviéticos cheios de vodca nas idéias decidiram fazer uns testes no reator nuclear da usina de Chernobyl, na cidade ucraniana de Prypyat. Eis que um monte de falhas humanas e o tradicional "jeitinho" soviético (a usina era superfaturada, feita com material vagabundo) resultaram numa mega explosão, jogando plutônio na atmosfera e tornando uma área demais de 50 km² ao redor da usina inabitável.

O governo da URSS tentou tapar o sol com a peneira, convocou um monte de bombeiros e mandou apagar o fogo da usina, sem providenciar roupas contra radiação. Resultado, helicópteros caindo, bombeiros morrendo e uma "armadura" de chumbo construída às pressas em volta do reator, ao custo de centenas de vidas.

Hoje Chernobyl, Prypyat e a "zona" são objeto de estudos sobre os efeitos da radiação no meio ambiente. O local é praticamente desabitado, a não ser por eventuais turistas e cientistas.

A GSC, softwarehouse ucraniana, tem uma visão ainda mais apocalíptica da "zona" e do desastre de Chernobyl, e sintetizou tudo isso no excelente STALKER: Shadow of Chernobyl.

здравствуй товарищ.
O mais interessante de Stalker é ser um game sobre a Ucrânia, feito por ucranianos. Apesar de "dublado" em inglês, o game conta apenas com as falas mais importantes nesta língua. Todo o resto, de placas a gritos de inimigos, é mantido no original, em russo. Mesmo a dublagem é propositalmente "tosca", com aquele sotaque de vilão de filme de 007, verbos conjugados erradamente em inglês e palavras faladas de maneira errada.
Em Stalker, a situação da "zona" (a área em volta da usina) é ainda pior do que na vida real. No mundo do game, a radioatividade acabou produzindo efeitos bizarros no meio-ambiente, coisas como surtos de eletricidade no meio do nada, gases inflamáveis, turbilhões de anti-gravidade e outros fenômenos estranhos. As vítimas desses fenômenos acabam tostadas, congeladas ou comprimidas em forma de pequenos objetos, que, ao serem carregados por uma pessoa, conferem habilidades sobre-humanas, como cicatrização mais rápida de ferimentos, regeneração de partes perdidas, proteção magnética contra projéteis...
Com a descoberta desses "artefatos", a "zona" logo se encheu de gente. Há diversas facções brigando por estes objetos, de bandidos e mafiosos comuns a militares, paramilitares, cientistas e fanáticos religiosos.
É nessa bagunça que você entra. Você joga com o "Marked One", um sujeito encontrado semi-morto depois de um acidente com um caminhão. A única pista é uma tatuagem no braço, onde se lê "STALKER". Os caras que te resgatam logo aproveitam de você para realizar missões para eles, incluindo missões de espionagem, eliminação de militares, bandidos e resgate de artefatos.
A jogabilidade é semelhante à de Fallout 3. Os cenários são imensos, e você pode ir, virtualmente, para onde quiser. Algumas áreas são momentaneamente intransponíveis, principalmente devido à radioatividade ou aos fenômenos bizarros, exigindo roupas próprias de proteção. O que mais impressiona, no entanto, é o efeito de luz e sombra. Durante o dia, o sol projeta sombra dos objetos. Durante chuvas, os raios brilham e iluminam todo o mapa. À noite a iluminação das lanternas é fraca, e os inimigos são espertos para atacar no escuro. Tiros iluminam o cenário de forma primorosa, assim como as explosões e fogo.
Os gráficos são muito bons, principalmente no que diz respeito à texturas. Os cenários são imensamente bem construídos, e são baseados em locais reais, visitados pelos funcionários da GSC. O som também é excelente. Jogar Stalker com headphones é como estar de verdade na "zona". Tudo foi reproduzido nos mínimos detalhes, do farfalhar das folhas das árvores ao vento, do uivo dos cachorros selvagens ao som das tubulações de água nos subterrâneos.
A gama de inimigos também é diversificada. De bandidos a paramilitares, de soldados russos a mutantes e cães selvagens, tem de tudo. A IA também é boa. Animais, por exemplo, se comportam naturalmente. Cães e lobos atacam em bandos, confiando na superioridade numérica, mas fogem ao serem atingidos por tiros. Javalis são ranzinzas e violentos, e atacam com ferocidade, sem se intimidar. Bandidos são desorganizados e covardes, enquanto soldados e paramilitares montam estratégias e usam cobertura.
Stalker, no entanto, tem alguns probleminhas. O primeiro diz respeito à animação das armas. Algumas armas são mal desenhadas e não recebem corretamente a luz e sombra do local, o que contrasta bastante com a excelência visual do cenário. O maior problema, no entanto, são as distâncias a serem percorridas no jogo.
Em Stalker não há nenhum modo de locomoção rápida de um ponto ao outro, como há em Fallout 3. Se alguém te manda ir para outra parte do cenário pegar alguma coisa ou cumprir alguma missão, prepare-se para uma longa e tediosa jornada que pode levar até meia-hora ou mais. As missões também expiram dependendo do tempo no jogo. Na maioria das vezes você tem que terminá-las em um certo número de horas ou dias, mas ir de um local para o outro já toma todo este tempo.
Ao contrário de Fallout 3, onde há muitos locais, missões e surpresas escondidas pelo cenário, em Stalker não há muito o que explorar nos campos abertos. Na maioria das vezes basta "mirar" um ponto e apertar "W" até seu personagem chegar lá, enquanto você pode ler uma revista, comer uns biscoitos ou ver TV no mundo real.
Apesar da grande quantidade de áreas "sem nada" nos cenários, das imensas distâncias e de alguns problemas gráficos e bugs, Stalker é um excelente game, altamente recomendado para quem jogou e gostou de Fallout 3. E para quem quer treinar seu russo.

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