Fallout New Vegas (Pc, Xbox 360, PS3) (****)
Na época dos games em disquete, a TSR, editora americana especializada em RPG, tinha um jogo chamado Alternity, com regras para cenários futuristas. Um destes cenários era o pós-apocalíptico Gamma World, sobre um futuro estilo Mad Max, onde o mundo havia sido destruído em uma guerra nuclear e os poucos sobreviventes lutavam por água, comida e armamento.
Com a febre de adaptar RPGs de mesa para PC, Gamma World acabou ganhando um jogo chamado Fallout. O sucesso foi tanto que logo veio a continuação, Fallout 2, um dos melhores RPGs eletrônicos de todos os tempos, que inclusive vinha com versões em .pdf de Alternity no CD.
O problema é que Fallout 2 foi um jogo tão bem feito, mas tão bem feito, que o projeto de um Fallout 3 empacou por quase uma década, passando de mão em mão sem esperanças de ser produzido algum dia (alguém falou de Duke Nunkem Forever? E StarCraft Ghost? E Diablo 3?). Até que a Bethesda pegou o projeto e finalmente lançou o excelente Fallout 3.
Para quem não conhece o jogo, em Fallout o mundo acabou nos anos 1950-1960, com uma guerra nuclear entre Estados Unidos, União Soviética e China. Os mais sortudos e abastados dos EUA se esconderam em abrigos subterrâneos numerados chamados "valts", e esperaram várias décadas até a radioatividade cair a níveis seguros na superfície. No entanto, fora dos valts, o mundo tinha virado um grande deserto radioativo, cheio de animais mutantes, monstros, soldados loucos, zumbis, saqueadores e justiceiros, estilo o que se vê em filmes como Mad Max.
New Vegas fica indefinido entre ser o "Fallout 4" ou uma expansão independente de Fallout 3. Há pouca mudança nos gráficos, jogabilidade, sons e elementos do cenário. Embora a ação aconteça em outra parte do mundo pós-apocalíptico de Fallout, temos quase todos os elementos de Fallout 3, praticamente todas as armas e equipamentos e a maioria das habilidades, perícias e opções de criação de personagem. A impressão que fica é de que se trata de um novo "pacote" de aventuras de Fallout 3, e não de um game "novo".
A parte gráfica é praticamente idêntica. Os efeitos de luz são "bonzinhos", embora haja luzes mal colocadas ou "desincorporadas" em muitos locais, sem nenhuma lâmpada ou objeto luminoso para criá-las. As texturas são razoáveis, mas algumas (sobretudo em algumas paredes e estruturas) são muito ruins, mesmo com os gráficos no máximo possível de qualidade. E a textura do céu é simplesmente horrorosa, muito inferior às nuvens e elementos (lua, estrelas, pássaros...) de Fallout 3.
Os fps (frames por segundo, velocidade do jogo) é bastante instável, e às vezes o jogo perde velocidade sem motivo aparente. A qualidade gráfica, placa de vídeo ou processador não parecem interferir muito nisso, e mesmo um equipamento muito potente (Pentium i7, 16GB RAM, GeForce GTX 580 1 GB DDR5) com os gráficos do jogo na qualidade mínima, experimenta esta queda de fps sem explicação.
O som é praticamente o mesmo de Fallout 3. As mesmas armas fazem os mesmos barulhos, as vozes são similares, as músicas estilo anos 50 são semelhantes e a trilha sonora instrumental para batalhas é praticamente a mesma. Há muita "pegadinha do malandro" nas músicas, sobretudo naquelas que normalmente tocam durante batalhas. Muitas vezes você vai ouví-las do nada e ficar procurando onde está o inimigo... mas não tem inimigo nenhum por perto, o jogo simplesmente resolveu tocá-la para te assustar!
A jogabilidade também é a mesma, incluindo o sistema de mira (chamado V.A.T.S., e que garante muitas mortes violentas e absurdamente sanguinolentas), inventário, criação de personagem e evolução. Pouca coisa muda em relação a Fallout 3. A maior mudança foi nas perícias, muitas que eram redundantes em Fallout 3 (como medicina e primeiros socorros) foram agrupadas em uma perícia só. Há realmente pouca coisa nova na criação de personagem, nem mesmo novos cortes de cabelo ou cores de olhos...
A maioria dos inimigos também é reciclada de Fallout 3. Temos aqui os sempre presentes formigas gigantes (incluindo as que cospem fogo!), radscorpions (escorpiões gigantes radioativos), boatfly (moscas gigantes), raiders (saqueadores) e tudo aquilo que você já estava acostumado. Há algumas novidades, como super-mutantes de pele cinza, capazes de ficar invisíveis, e os "rebeldes da pólvora" (powder ganger), ex-presidiários que adoram arremessar dinamite em você, mas são muito poucas em relação à Fallout 3.
Embora não possa ser realmente considerado um "Fallout 4", New Vegas trás algumas novidades, incluindo o maligno "modo hardcore", com o máximo de realismo possível, incluindo marcadores para fome, sede e sono que, se zerados, podem até matar por desidratação, fome ou privação de sono...
Outro fator (muito) positivo de New Vegas é seu enredo divertido e a grande variedade do jogo. Embora a missão central seja curtíssima e o jogo possa ser completado em menos de 6 horas, dificilmente você ficará preso somente nela. O mundo de New Vegas é grande (embora sensivelmente menor que o de Fallout 3), e há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Todo o cenário é envolvido numa batalha entre a NCR (New California Republic, militares americanos democráticos porém imperialistas) e a Legião (malucos pós-apocalípticos que tentam recriar o Império Romano) por uma hidroelétrica, e nesta briga acontece de tudo, então espere por cidades saqueadas, espiões, caravanas atacadas e constante assédio destes dois grandes grupos (e vários grupos menores) querendo te recrutar.
A história segue divertida, sem lados "bons" e "maus" claramente definidos, e há muito mais missões, intrigas e narrativas nestes grupos do que na história central (sobre um sujeito que te deu um tiro na cabeça por causa de uma ficha de poker... sério!), e se aliar à NCR ou à Legião (ou aos vários outros grupos) muda completamente sua visão do cenário, com inúmeras missões diferentes e todo um esforço narrativo que vale à pena.
Fallout New Vegas ainda não é um "Fallout 4", assim como Fallout Brotherhood of Steel não foi um "Fallout 3" em seu tempo, mas se você gostou do game anterior, vai se divertir neste jogo, que apesar de trazer pouca novidade, é uma boa adição à série.
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