Fable III (PC, Xbox 360) (**)

Fable III (PC, Xbox 360) (**)

A série Fable tem uma história tumultuada. O primeiro Fable era claramente uma paródia dos RPGs que costumamos ver nos computadores e consoles, com missões absurdas e personagens exagerados, e uma narrativa tão clichê quanto possível.

O segundo Fable, exclusivo para Xbox 360, trazia um mundo mais avançado, mas ainda mantinha um ar descontraído. Fable III chega agora como um RPG Steampunk, mezzo fantasia medieval (magia, monstros, espadas...), mezzo Era Vitoriana (roupas, armas de fogo, costumes...).

Na narrativa, o reino de Albion, agora na era industrial, vive governado por um tirano chamado Logan, um rei absolutista desalmado que trata o povo como se fossem seus escravos. Você controla o irmão ou irmã de Logan, que acaba apoiando uma revolução contra o irmão... até descobrir o verdadeiro motivo pelo qual o rei era um tirano.

Se você já jogou algum Fable, vai reconhecer o tom caricatural por aqui. Embora seja bem mais sério que os demais jogos, este ainda é um game que valoriza muito mais a comédia do que o matar-pilhar-destruir. Há personagens engraçados e cartazes com anúncios bizarros espalhados por todo lado, e volta e meia você topa com alguma referência aos outros jogos da série.

A parte gráfica é competente, e os sons são interessantes, mas nada que se destaque muito. Na verdade, Fable III decepciona bastante, principalmente pelo modo como a narrativa é conduzida.

O jogo como um todo é um tanto decepcionante, principalmente pela indecisão da Lionhead sobre como conduzir a narrativa. Embora opte pela paródia, Fable III não tem muito no que se inspirar, e acaba desenvolvendo uma história bastante trágica. Faltam bons momentos no jogo, e no geral a história parece forçada, sem cativar o jogador. Embora tenha um ar cartunesco e pareça um jogo infantil, aqui você tem amplas referências sexuais (incluindo um personagem que tem um quarto na casa cheio de galinhas... e preservativos!). Embora seja bastante voltado para a interação com os personagens (você até ganha experiência e sobe de nível por cantar, dançar e conversar com pessoas na rua), a narrativa te arremessa em combates (muitas vezes sem motivo) o tempo todo.

Em falar em combate, esta é a pior parte de Fable III. Você pode lutar usando uma arma de ataque corpo-a-corpo (espada ou martelo), uma arma de fogo (pistola ou rifle) e magias. Só as magias, no entanto, são úteis. Você pode escolher vários tipos de efeitos e até misturá-los. A maioria das magias tira os inimigos de combate temporariamente, causa dano em uma grande área e pode atingir dezenas de oponentes ao mesmo tempo. Se você segurar o botão da magia (no mouse ou no controle do Xbox360), ela fica mais poderosa e afeta uma área maior. Ou seja, todos os combates, exceto pelos chefes, se resumem a carregar a magia de área, esperar os inimigos chegarem perto e então liberar seu poder destrutivo em todo mundo. A espada é inútil e o rifle só serve para acertar botões e bônus escondidos aqui ou ali.

Outro problema é que Fable III fica tentando "esticar" as horas de gameplay sem necessidade, com sidequests intermináveis. E quando digo intermináveis, são intermináveis mesmo!

Conforme você conversa com os demais personagens, você vai ganhando a confiança deles, e quando eles confiam o bastante para serem seus amigos, eles te enchem de sidequests, normalmente aquelas coisas "divertidas" (ironia) como entregar pacotes em outras cidades ou procurar um item enterrado em algum quintal...

Por sorte você tem um cachorro, que, de longe, é um dos melhores personagens do jogo. Ele consegue encontrar objetos enterrados, tesouros e rosna quando há inimigos por perto. Ruim é que ele não é nem um pouco útil em combate, e muitas vezes é vítima de bugs engraçados. Certa vez, ao descer uma ladeira, meu cachorro começou a flutuar, imóvel, atrás de mim, como se fosse uma alma penada canina...

Fable III é um game bem feito, mas não se destaca em praticamente nada. A narrativa tenta ser engraçada, mas acaba se tornando mais depressiva. Os personagens tentam ser cativantes, mas perdem feio para o cachorro. As sidequests tentam esticar o jogo, mas após uma ou duas você as estará ignorando sumariamente.

Como diria o ditado, de boas intenções o inferno está cheio...