Eu me lembro de uma vez ter lido em uma revista (se não me engano foi a Set, sobre cinema) uma entrevista com Mike Mignola onde ele contava o sacrifício que foi fazer o filme do herói Hellboy, com os produtores o tempo todo querendo mudar a cor do personagem para amarelo, seu nome para "Heckboy" e fazer ele virar um monstro só quando estava bravo...
É, parece que a era dos produtores sem noção chegou aos games também. Dead Island foi anunciado primeiro com um trailer que mostrava, de trás para a frente, a morte de uma família em um resort durante uma infestação zumbi. A promessa era um game inovador, open-world, com uma ilha paradisíaca imensa à sua disposição, zumbis aos montes e, principalmente, foco na personalidade e no sentimento dos personagens durante este momento difícil.
O jogo Dead Island não chega nem perto desta descrição. A impressão que dá é que, a cada 10 minutos, os produtores da Deep Silver e da Techland exigiam que ele copiasse pedaços de outros games como Resident Evil, Dead Rising, The Suffering, Dead Space e Left4Dead.
"Hummm... você me parece familiar..." |
Mas vamos por partes. Aqui temos uma ilha chamada Banói, na Oceania, que praticamente vive do turismo com enormes resorts à beira-mar e atrações para gringos. Do nada uma epidemia zumbi aparece e você está preso no meio dela.
Você tem à disposição quatro personagens para escolher (Left4Dead?): um rapper fracassado (de longe o personagem com melhores status... sim, eles são MUITO desequilibrados) que por algum motivo obscuro é bom com armas de contusão, um ex-jogador de futebol americano que pelos mesmos motivos estranhos pode arremessar facas explosivas (???), uma policial chinesa expert com armas cortantes (pelo visto os produtores acreditam que policiais ainda usam espadas na China....) e uma aborígene guarda-costas que é excelente com armas de fogo (a única que faz sentido até aqui... mesmo que você só vá ver uma arma de fogo quase na metade do jogo...).
"Abra a boca e diga 'Ááááááá'" |
Durante o jogo, hibridações de outros jogos ficam evidentes. Você pode modificar armas em bancadas de ferramentas, acrescentando todo tipo de lixo bizarro nelas (Dead Rising?), e não estamos falando apenas de clássicos como tacos de baseball com pregos, entram ai também facões com baterias de celular ligados neles com fios, tornando-os elétricos, munição que dá choque, tochas, bombas feitas com desodorante (?) bizarras armas paralisantes feitas com detergente (??).
"Oi gracinha, lembra de mim do Left4Dead?" |
A parte gráfica também foi vítima de alguns problemas, principalmente no que diz respeito a texturas e volumes. Parece que inicialmente o game foi bem feito, com uma boa variedade de mortos-vivos em vários estados de decomposição, bonitos modelos dos protagonistas, boas texturas nos ambientes... Então algum espírito de porco decidiu de última hora que o jogo precisava de névoa, e foi adicionada uma névoa muito, mas muito fake, com uma textura horrível e contornos das partes menos transparentes para as maiores. E para variar ela não se comporta direito no jogo, é comum entrar em uma sala que tem apenas um "tapete" de névoa em um cantinho, sem origem específica, sem volume, sem se esparramar para o resto da sala...
"Zumbis tudo bem, mas Las Plagas é sacanagem!" |
Há algumas boas idéias no gameplay. Quando você começa a usar uma arma, ela está novinha em folha, alguns golpes depois e você vai ver cabos de vassoura quebrando, facas entortando e machados rachando, em um game que se apoia muito em armas improvisadas, estes efeitos são muito bem feitos, e dão um tom de veracidade para a coisa toda (quantas pessoas você consegue derrubar com um cabo de vassoura antes dele se quebrar?). Golpes nos braços e pernas podem cortá-los ou quebrá-los, derrotando o zumbi ou deixando ele menos perigoso, enquanto um ataque na cabeça pode arrebentar o crânio dele ou decapitá-lo totalmente. Falando em cabeças, esqueça os filmes e nunca mire na cabeça em Dead Island, é mais fácil e eficaz simplesmente arrebentar as pernas dos zumbis, deixando eles fora de combate mais rapidamente do que com golpes no crânio.
"Mire no pé! É o ponto fraco dele!!" |
Por falar em risco, Dead Island tem uma maneira bem estranha de se aproximar do gênero RPG. Aqui você ganha experiência, sobe de nível e libera habilidades adicionais como na maioria dos jogos de RPG eletrônico, mas, para não perder o desafio, o jogo simplesmente "upa" os zumbis na mesma medida, ou seja, conforme você fica mais forte, rápido e letal matando zumbis, eles também ficam mais fortes, rápidos e resistentes, mesmo que você volte às primeiras partes do jogo... Se por um lado isso equilibra o desafio, por outro joga a idéia de um progresso de personagens "estilo RPG" por água abaixo. Do que adianta eu ficar mais forte se sempre vou ter o mesmo trabalho para matar o mesmo inimigo? Podiam fazer que nem Left4Dead, por exemplo, que não segue esse tipo de progresso...
"Oba! Achei a ilha do Lost!" |
Dead Island é um game que prometeu muito, cumpriu muito pouco e ainda fez bonito o bastante para conseguir prender os jogadores por umas 70 horas ou mais... contando que seus aliados inúteis não sejam pisoteados por mortos-vivos bem durante o savegame automático...
muito boa a análise do jogo, eu estou jogando a pouco tempo, já estou na parte da cidade.. e concordo com a maioria das coisas ditas, principalmente a parte dos gritos gemidos e barulhos feitos pelos "mortos vivos" que é a pior coisa q tem d ruim nesse jogo.
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