25 de outubro de 2011

Dead Island (PC, Xbox360, PS3) (***)

Dead Island (PC, Xbox360, PS3) (***)

Eu me lembro de uma vez ter lido em uma revista (se não me engano foi a Set, sobre cinema) uma entrevista com Mike Mignola onde ele contava o sacrifício que foi fazer o filme do herói Hellboy, com os produtores o tempo todo querendo mudar a cor do personagem para amarelo, seu nome para "Heckboy" e fazer ele virar um monstro só quando estava bravo...

É, parece que a era dos produtores sem noção chegou aos games também. Dead Island foi anunciado primeiro com um trailer que mostrava, de trás para a frente, a morte de uma família em um resort durante uma infestação zumbi. A promessa era um game inovador, open-world, com uma ilha paradisíaca imensa à sua disposição, zumbis aos montes e, principalmente, foco na personalidade e no sentimento dos personagens durante este momento difícil.

O jogo Dead Island não chega nem perto desta descrição. A impressão que dá é que, a cada 10 minutos, os produtores da Deep Silver e da Techland exigiam que ele copiasse pedaços de outros games como Resident Evil, Dead Rising, The Suffering, Dead Space e Left4Dead.

"Hummm... você me parece familiar..."
Ok, até aqui tudo bem, originalidade é algo difícil de se alcançar mesmo (pergunte para as centenas de RPGs que copiam a série Final Fantasy por aí...), e, no fundo, Dead Island é capaz de te divertir durante a maior parte do jogo, principalmente por conta de seu nível de desafio alto.

Mas vamos por partes. Aqui temos uma ilha chamada Banói, na Oceania, que praticamente vive do turismo com enormes resorts à beira-mar e atrações para gringos. Do nada uma epidemia zumbi aparece e você está preso no meio dela.

Você tem à disposição quatro personagens para escolher (Left4Dead?): um rapper fracassado (de longe o personagem com melhores status... sim, eles são MUITO desequilibrados) que por algum motivo obscuro é bom com armas de contusão, um ex-jogador de futebol americano que pelos mesmos motivos estranhos pode arremessar facas explosivas (???), uma policial chinesa expert com armas cortantes (pelo visto os produtores acreditam que policiais ainda usam espadas na China....) e uma aborígene guarda-costas que é excelente com armas de fogo (a única que faz sentido até aqui... mesmo que você só vá ver uma arma de fogo quase na metade do jogo...).

"Abra a boca e diga 'Ááááááá'" 
Logo no começo você percebe que Dead Island tem alguns probleminhas. O jogo é feito para ser jogado principalmente no modo cooperativo (Lan ou internet), mas os personagens são extremamente desbalanceados. Pegue o rapper Sam B, por exemplo, ele pode aguentar mais porrada que todo mundo, é mais forte, causa mais dano e "apenas" é mais lento, ok, ele deveria ser o "tanker" do grupo, uma vez que é especialista em armas de combate corpo-a-corpo, mas a mocinha Xian Mei, que também é especialista em combate mano-a-mano, não chega aos pés do rapper...

Durante o jogo, hibridações de outros jogos ficam evidentes. Você pode modificar armas em bancadas de ferramentas, acrescentando todo tipo de lixo bizarro nelas (Dead Rising?), e não estamos falando apenas de clássicos como tacos de baseball com pregos, entram ai também facões com baterias de celular ligados neles com fios, tornando-os elétricos, munição que dá choque, tochas, bombas feitas com desodorante (?) bizarras armas paralisantes feitas com detergente (??).

"Oi gracinha, lembra de mim do Left4Dead?"
Os zumbis também lembram bastante outros jogos. No início há zumbis lentos e tolos e outros rápidos e agressivos (como em quase todo game de zumbi), mas depois você encontra os suicidas explosivos (Dead Space?), os gordões que vomitam em você (Left4Dead?) os fortões que saem correndo, te atropelam e arremessam longe (Left4Dead novamente?) e até um bizarro zumbi/esqueleto com foices no lugar de mãos (Lembra 300 de Esparta? E The Suffering?).

A parte gráfica também foi vítima de alguns problemas, principalmente no que diz respeito a texturas e volumes. Parece que inicialmente o game foi bem feito, com uma boa variedade de mortos-vivos em vários estados de decomposição, bonitos modelos dos protagonistas, boas texturas nos ambientes... Então algum espírito de porco decidiu de última hora que o jogo precisava de névoa, e foi adicionada uma névoa muito, mas muito fake, com uma textura horrível e contornos das partes menos transparentes para as maiores. E para variar ela não se comporta direito no jogo, é comum entrar em uma sala que tem apenas um "tapete" de névoa em um cantinho, sem origem específica, sem volume, sem se esparramar para o resto da sala...

"Zumbis tudo bem, mas Las Plagas é sacanagem!"
A parte sonora também é capenga. Apesar das dublagens serem, na maioria, bem competentes (e vez ou outra realmente passarem uma idéia de emoção dos personagens), os sons dos monstros são mal feitos e não se comportam como deveriam. É praticamente impossível determinar de onde vem cada grunido, berro ou gemido, mesmo com o zumbi do seu lado, não dá para perceber de onde vem o som. Sabe aquele ótimo efeito e atmosfera aterrorizante que Dead Space 2 criou? É isso que faz falta aqui.

Há algumas boas idéias no gameplay. Quando você começa a usar uma arma, ela está novinha em folha, alguns golpes depois e você vai ver cabos de vassoura quebrando, facas entortando e machados rachando, em um game que se apoia muito em armas improvisadas, estes efeitos são muito bem feitos, e dão um tom de veracidade para a coisa toda (quantas pessoas você consegue derrubar com um cabo de vassoura antes dele se quebrar?). Golpes nos braços e pernas podem cortá-los ou quebrá-los, derrotando o zumbi ou deixando ele menos perigoso, enquanto um ataque na cabeça pode arrebentar o crânio dele ou decapitá-lo totalmente. Falando em cabeças, esqueça os filmes e nunca mire na cabeça em Dead Island, é mais fácil e eficaz simplesmente arrebentar as pernas dos zumbis, deixando eles fora de combate mais rapidamente do que com golpes no crânio.

"Mire no pé! É o ponto fraco dele!!"
Um zumbi arrebentado ou mutilado sangra de maneira satisfatória, manchando paredes, chão e até o teto dos locais. Poucas vezes vi um sangue tão bem feito em um game quanto em Dead Island. Pena que o mesmo não possa ser dito da IA. Ok, a inteligência de um zumbi não é lá essas coisas, mas aqui a coisa beira o ridículo. Basta tirar os pés do chão que os zumbis quase imploram para serem mortos. Perseguido por dezenas de mortos-vivos? Suba em um carro, caçamba de lixo ou muro, mesmo que você fique na altura do peito dos zumbis, eles vão parar na sua frente, esticar os braços para cima e ficar te olhando com cara de cachorro com fome... Depois de descobrir isso, algumas fases viram uma corrida de carro em carro para matar zumbis sem correr riscos.

Por falar em risco, Dead Island tem uma maneira bem estranha de se aproximar do gênero RPG. Aqui você ganha experiência, sobe de nível e libera habilidades adicionais como na maioria dos jogos de RPG eletrônico, mas, para não perder o desafio, o jogo simplesmente "upa" os zumbis na mesma medida, ou seja, conforme você fica mais forte, rápido e letal matando zumbis, eles também ficam mais fortes, rápidos e resistentes, mesmo que você volte às primeiras partes do jogo... Se por um lado isso equilibra o desafio, por outro joga a idéia de um progresso de personagens "estilo RPG" por água abaixo. Do que adianta eu ficar mais forte se sempre vou ter o mesmo trabalho para matar o mesmo inimigo? Podiam fazer que nem Left4Dead, por exemplo, que não segue esse tipo de progresso...

"Oba! Achei a ilha do Lost!"
Embora tenha muitos problemas (tanto técnicos quanto de desenvolvimento), Dead Island é um jogo divertido, e você pode gastar várias horas arrebentando crânios de zumbis... até chegar em uma daquelas fases do tipo "game over automático". Em várias partes do jogo você tem que escoltar outros personagens que, além de terem pouquíssima vida, são suicidas e vão correr em direção do primeiro zumbi que virem. Como o jogo usa aquele maldito método de autosave, você corre o risco dele "salvar" bem no momento que um zumbi fodão (tipo o cara das foices) está estripando o aliado que você deveria escoltar, aí cai em um círculo vicioso de dar loading só para ver um game over automático. Após mais de 70 horas de jogo, isso aconteceu comigo (levava dois segundos, contados no relógio, para o jogo terminar de dar "reload" na fase e o meu aliado morrer, dando game over. O jogo já salvou ele arremessado por um zumbi em pleno ar, nem dava tempo de chegar até ele correndo...)

Dead Island é um game que prometeu muito, cumpriu muito pouco e ainda fez bonito o bastante para conseguir prender os jogadores por umas 70 horas ou mais... contando que seus aliados inúteis não sejam pisoteados por mortos-vivos bem durante o savegame automático...


Um comentário:

  1. muito boa a análise do jogo, eu estou jogando a pouco tempo, já estou na parte da cidade.. e concordo com a maioria das coisas ditas, principalmente a parte dos gritos gemidos e barulhos feitos pelos "mortos vivos" que é a pior coisa q tem d ruim nesse jogo.

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