31 de outubro de 2011

Space Marine (PC, Xbox360, PS3) (****)

Space Marine (PC, Xbox360, PS3) (****)

No final dos anos 1970 e início da década de 1980, a empresa de games de tabuleiro britânica Games Workshop tinha uma linha de jogos baseado em um mundo de fantasia épica chamado Warhammer. Com a crescente popularidade da ficção científica, impulsionada pelo primeiro filme da série Star Wars, a empresa incumbiu seus funcionários de criar um novo jogo de tabuleiro, desta vez com uma ambientação futurista.

Assim nasceu Warhammer 40.000 (ou Warhammer 40k para os íntimos), uma série de jogos de tabuleiro que se tornou tão famosa que logo deu origem a livros, gibis, filmes e, claro, jogos eletrônicos.

Space Marine é a mais nova encarnação do universo de Warhammer 40k no seu PC ou console de videogame. Ao contrário dos últimos jogos da THQ para a série, de estratégia em tempo real, Space Marine toma um rumo diferente, colocando o jogador no papel de um dos soldados de elite do futuristico Imperium contra uma invasão de orcs espaciais (aqui chamados "orks" com "K").

Para quem não é familiarizado com o universo de Warhammer 40k, os Space Marines (algo como "Fuzileiros Espaciais") são a nata dos guerreiros da humanidade no ano 40.000, seres humanos geneticamente modificados vestindo armaduras robóticas tão pesadas quanto um tanque e portando armamento capaz de fazer inveja a qualquer máquina de guerra dos dias atuais. Fanaticamente leais ao Imperador e devotados à honra e à justiça, esses guerreiros não conhecem medo e podem moer um exército inteiro com suas espadas-motosserra.

Orcs espaciais - Chore de terror, Warcraft!
Aqui você encarna o Capitão Titus, líder de um batalhão de Space Marines conhecidos como Ultramarines localizados no planeta Graia. A população local se vê em maus lençóis com uma iminente invasão de Orks, gigantes verdes brutos, estúpidos e usuários de tecnologia tosca e improvisada. Apesar de bem armados, os humanos são quase prontamente dizimados por bilhões de orks que chegam a cada segundo na superfície do planeta, doidos para roubar os maiores segredos e armas do Imperium.

Como um dos poucos combatentes aptos deste mundo, você e os Ultramarines locais devem deter a invasão ork e, de quebra, descobrir quem ou o que está por trás de todo aquele caos.

Espada-motosserra, isso sim é uma arma bruta!
Space Marine segue mais ou menos o estilo de Halo e Gears of War, com ação contínua, ambientes labirínticos e belos cenários. Apesar de ser bastante linear, o game não deixa a peteca cair, há sempre novos e belos cenários, uma narrativa bem amarrada, boa dublagem e uma grande quantidade de armamento a disposição. Quando o gameplay está para ficar chato, o jogo te diverte introduzindo jetpacks, capazes de fazer Titus voar e se arremessar violentamente contra os inimigos.

Os inimigos, embora quase todos orks, são bastante variados, e vão dos tradicionais "grunts" que morrem com uma machadada até enormes monstros capazes de te esmagar violentamente. Inimigos com metralhadoras e lançadores de mísseis te obrigarão a procurar cobertura e usar armas de distância, enquanto outros com machados e espadas vão apelar para o combate corpo-a-corpo, possibilitando grande variedade de estratégias.

Graficamente, Space Marines é muito bem feito. As texturas e efeitos de névoa e luz são excelentes, as animações são muito bem montadas e tudo transmite o clima épico e gótico do universo de Warhammer. Tudo parece detalhado ao extremo, das paredes chamuscadas por tiros de laser ao sangue borrando o chão.

Um destaque especial foi dado para as armaduras dos Space Marines, que parecem enormemente pesadas (é impossível saltar com elas, a menos que você esteja com turbinas de avião presas nas costas!), cada passo faz um barulho alto e o visual de balas rechicoteando na carapaça é impressionante.

Orks tem tecnologia tosca, mas são bem violentos
A parte sonora se destaca com dublagens bem feitas, que realmente passam o clima de guerra do jogo. Seus aliados conversam com você e tem personalidades distintas, assim como outros personagens que você encontra. Ao longo do jogo você também topa com gravações de outros personagens (que nem sempre aparecem no jogo), contando melhor a narrativa da invasão ork, do pai de família em pânico, tentando fugir do planeta aos médicos da milícia planetária tentando cuidar dos milhões de feridos no combate. A trilha sonora ajuda a criar um clima pra lá de épico, e os sons das armas e os berros dos orks e humanos soam realmente bem feitos.

A grande surpresa mesmo fica pro final, com um dos melhores e mais absurdos chefões que a história dos videogames já viu (e uma das mortes mais sangrentas também), e o jogo acaba em um cliffhanger que indica que, como a série Dawn of War da mesma THQ, Space Marine deverá ganhar mais algumas expansões.

O ponto negativo de Space Marine fica por conta da pouca variedade de modos de jogo. Fora a campanha single player e um multiplayer bem tradicional, não há muito mais coisa a se fazer. Faltam achievements ou qualquer coisa que te faça voltar ao jogo após derrotar o último chefe. O universo de Warhammer é muito, muito grande e variado, e fica um tanto "sub-utilizado", sem mostrar muito mais do que a eterna luta entre humanos e orcs que já segue desde a primeira edição de O Senhor dos Anéis...

A IA também sofre um pouco aqui. Tudo bem que os orks sejam estúpidos, mas seus aliados também parecem ter o QI de um George Bush. Raramente eles fazem alguma coisa durante os combates a não ser servir como alvo para os inimigos não atirarem sempre em você, e não parece haver o trabalho de equipe que há em um Gears of War, por exemplo.

Em resumo, Space Marines é divertido como um game deve ser, tem uma boa narrativa, excelentes gráficos e som. Peca um pouco na IA e na falta de novidades, mas se supera no clima épico e nas batalhas sangrentas.

27 de outubro de 2011

O Ataque dos Clones - Dead Island

O Ataque dos Clones - Dead Island

Dead Island prometeu revolucionar os games de zumbis... mas no fritar dos ovos, copiou muita coisa de outros games.

Quem ganharia a briga, os originais ou os clones? Vejamos os inimigos de Dead Island...

- Os "Arroz-de-Festa":


- Walkers:

Eles atacam em bandos, são resistentes, lentos e exibem ferimentos que matariam qualquer ser vivo. Walkers são os mortos-vivos mais comuns em Dead Island, são burros feito uma pedra e podem ser facilmente enganados se você tirar os pés do chão. Basta subir em um carro ou muro para eles se amontoarem em volta, com os braços para cima, implorando para levar uma paulada na cabeça.

Mas não se engane, eles também podem carregar e arremessar armas, e alguns usam armadura (de capacetes de futebol americano até coletes de kevlar).

Igual a: Zumbis clássicos

George Romero foi o inventor dos filmes modernos de zumbi. Ele filmou em 1968 "A Noite dos Mortos-Vivos" como uma sátira à sociedade capitalista americana, e os mortos-vivos como o avanço da sociedade consumista e ignorante sobre as "pessoas comuns". Os zumbis de Romero inicialmente eram lentos e estúpidos, cambaleando aleatoriamente com ferimentos abertos. Praticamente todos os filmes, quadrinhos, séries e games de zumbis copiaram os cadáveres ambulantes deste filme.

Vitória de: Dead Island
Os zumbis de Dead Island são, como praticamente todos os outros, tirados da obra de Romero, mas eles tem a vantagem de carregar armas e usar armadura, coisa que só em 2005 com Terra dos Mortos, os zumbis de George Romero aprenderam a fazer...

- Infected:

Os Infected são zumbis raivosos e rápidos, podem ser ouvidos de longe berrando, e quando você menos espera eles chegam correndo e saltando sobre você.

Eventualmente podem subir em carros e muros baixos com a inércia da corrida, mas normalmente ficam esticando os braços igual aos walkers se você estiver em cima de algum objeto.

São ligeiramente mais fracos que os walkers, preferindo atacar rápido e de surpresa, e apostar em golpes velozes para te derrubar...

Igual a: Extermínio (28 Days Later)


O filme 28 Days Later, que ganhou o bizarro título de Extermínio em português, foi pioneiro em introduzir zumbis rápidos, ágeis e agressivos, caçando ativamente os vivos ao invés de só tropeçando por aí. No filme uma mutação do virus da Raiva cria uma doença mortal que transforma qualquer pessoa mordida em algo similar aos mortos-vivos de Romero, porém extremamente rápidos e agressivos.

Depois de Extermínio, vários filmes (como o remake de Madrugada dos Mortos em 2004), seriados, gibis e games passaram a incorporar zumbis velozes e agressivos.

Os mais notáveis dos zumbis agressivos nos games são os mortos-vivos de Left4Dead, que costumam avançar como uma horda sobre os jogadores.

Vitória: Extermínio. Os zumbis do filme são rápidos como os de Dead Island, e também são mais espertos, inteligentes e resistentes, podem escalar barricadas e armar emboscadas. Eles não gostam muito de luz, mas você não precisa nem ser mordido para virar um deles, basta ter contato com o sangue de um infectado...

- Os "Clones":

- Floater:

Mesmo com a epidemia de obesidade que afeta os cidadãos da Oceania e os turistas americanos e europeus, quase todo mundo em Banoi ficou magérrimo depois de virar zumbi.

Entra em cena então o Floater, um zumbi obeso, enormemente alto, que vomita ácido a longas distâncias e praticamente o único oponente que pode te acertar se você subir em cima de um carro.

A "explicação" para o morto-vivo com transtorno alimentar é que eles são cadáveres de walkers que ficaram muito tempo imersos na água, ficaram inchados e meio podres (o ácido seria um "subproduto" da decomposição deles... provavelmente os designers do jogo acreditam que chorume de cadáver é ácido e explosivo...). Ninguém explica é como eles ficaram tão altos ou como o ácido deles torna outros zumbis atingidos mais propensos a pegar fogo...

Igual a: Boomer (Left4Dead)

Os floaters de Dead Island são tão 'quibados' que parecem os boomers de Left4Dead em férias. Que outra explicação poderíamos ter exceto que os obesos do jogo da Valve resolveram pegar um bronzeado nas praias de Banói?

Vejamos, ambos são muito gordos, muito grandes, cheios de pústulas, vomitam gosma verde a longas distâncias e até fazem um barulho similar. O Boomer leva vantagem por poder explodir também, e sua gosma, ao invés de tornar os inimigos mais vulneráveis a fogo, deixa é você mais vulnerável a morte, atraindo hordas e hordas de todo tipo de morto-vivo para cima de seu couro.

Vitória: Boomer. Além de ser mais útil para as tropas de mortos-vivos (não tornando eles mais inflamáveis já conta como ajuda), o gordão de Left4Dead pode dar uma de "zumbi bomba" e indicar alvos com vômito para seus aliados... eca!

- Suicider:

Olha que coisa mais linda, um zumbi com tantas pústulas que parece um cacho de uvas. E o pior, ele explode. E fica gritando por ajuda ou pedindo para alguém matar ele.

Os suiciders são os homem-bomba de Dead Island, recheado de (provavelmente) metano, explodem assim que sua pele se rompe ou quando vêem uma pessoa viva por perto (vamos imaginar que ele explode de emoção...). São muito úteis para arrebentar grandes grupos de walkers e/ou infected, que costumam acompanhar os suiciders por aí. às vezes também armam armadilhas, ficando quietinhos atrás de paredes e esquinas, apenas esperando por você para te dar um abraço...

Igual a: Bomber (Dead Space)

Repare neste simpático zumbi espacial de Dead Space. O que ele carrega no braço esquerdo? Um Suicider de Dead Island, é lógico!

Não só as pústulas explosivas tem o mesmo formato como também a mesma função, a de arrebentar e mandar tudo pelos ares.

Vitória: Suicider. Os necromorfos explosivos não conseguem falar, e para piorar, suas pústulas brilham no escuro, o que permite alguém vê-las sem precisar de uma lanterna.
Os zumbis de Dead Island podem se esconder e atrair as presas mais facilmente do que os de Dead Space...

- Homenagens:


- Thug:

Imagina que o elenco de Jersey Shore ou Malhação estava em Banói durante os eventos de Dead Island. Com certeza os maiores "manezões" destes seriados iriam se tornar os Thugs, zumbis vestidos com bermudas floridas, gel de cabelo e correntinhas no pescoço, chamando todo mundo para a "porrada" enquanto exibem os músculos para todos os lados.

Seu ego inflado e golpes poderosos podem mandar qualquer desavisado para o chão. Sorte que o zumbi-manezão não pula em cima para uma luta de Jiu-Jitsu...

Pode apostar que depois de te matar ele vai pegar sua Ferrari (alugada com cheque sem fundo) e sair para a balada a fim de rebocar umas "zumboas" de cabelo oxigenado que vivem de pensão de ex-jogador de futebol...

Lembra: Tank (Left4Dead)

Ao contrário do seu parente praiano, que provavelmente implantou músculos de silicone, o Tank de Left4Dead é o típico manezão de academia, daqueles que se entopem de anabolizante e só deixam a ginástica quando a academia tem que fechar.

Ele não trabalha, é sustentado pelo papai zumbi, e praticamente mora entre os pesos e halteres, preferindo uma sessão de supinos invertidos oblíquos do que os luais regados a reggae universitário de seu parente de Banói.

Em jogo os dois funcionam praticamente da mesma forma, te batem com força e te arremessam de cima de construções.

Vitória: Tank. O manezão academia entupido de anabolizante é mais rápido e resistente que seu parente praiano. Ele provavelmente vai dar um pau no Thug, roubar as namoradas dele e depois abandoná-las para fazer mais algumas roscas invertidas com halteres de cinquenta quilos...

- Butcher:

O que é mais assustador do que um zumbi correndo atrás de você? Claro, um zumbi com cara de caveira e cabelo de vocalista de banda de black metal.

Por algum motivo estranho (assistiram 300 de Esparta mil vezes), os designers de Dead Island resolveram cortar fora as mãos deste zumbizão (que já não é muito bonito de cara) e colocar foices afiadas feitas de osso (?) no lugar.

O Butcher é rápido, feroz e pode matar aqueles companheiros que você tem que escoltar no jogo em apenas um ou dois golpes, tornando-se facilmente um dos piores inimigos que você vai enfrentar.

Lembra: Slayer (The Suffering)

Qual outro morto-vivo é rápido, agressivo, tem algo cortante no lugar de mãos e constituição esquelética? Os zumbis/fantasmas/wtf de The Suffering.

Os Slayers são os inimigos mais comuns no jogo, mas nem por isso são fracos. Além de rápidos e agressivos, costumam atacar em bandos, escalam paredes, desviam de golpes e podem correr como uma aranha ou sair voando feito um peão na sua direção. Aparentemente são almas penadas dos prisioneiros que morreram na cadeia das Ilhas Carnage, esfaqueados pelos colegas durante rebeliões.

Vitória: Slayers. Os Butchers são rápidos, maus e feios, mas os Slayers podem subir pelas paredes e deixá-los se perguntando onde foram parar... isso até descerem com facas miradas na cabeça deles...

- Ram:

Quando começou a epidemia de zumbis, alguns foram prontamente capturados, e para mantê-los quietos, a fim de serem estudados, colocaram uma camisa de força, colete no pescoço e máscara anti-mordida. O buraco nas costas do colete mostra que provavelmente estavam mexendo em sua coluna (procurando sinais do virus, provavelmente) antes dele fugir e sair quebrando tudo.

Ninguém explica como essas coisas ficaram tão grandes, ou por qual motivo são tão resistentes, fortes e tem um chute capaz de te matar instantaneamente... talvez fossem jogadores de futebol com gigantismo...

Lembra: Garrador (Resident Evil 4) + Hannibal Lecter (filme O Silêncio dos Inocentes) + Burrower (The Suffering)

O Ram faz o papel de "inimigo fodão pra caramba, e provavelmente muito pior, pois nem está podendo usar todo o seu poder". Amarrado e amordaçado ele já é muito pior que a maioria dos zumbis de Banói. É rápido o bastante para rivalizar com os Butcher e Infected, é resistente como um Thug (até mais do que um deles) e causa mais dano por porrada do que todos os demais inimigos.

Garrador de RE4 também faz esse papel. Ele é cego, tem uma máscara que impede de morder (lembra a do Hannibal Lecter), e está amarrado da primeira vez que você o vê.

Os Burrowers de The Suffering também seguem essa idéia, completamente imobilizados por camisas de força e toucas, correntes e cintas, eles lutam controlando correntes afiadas.

Vitória: Ram. O zumbizão de Banói é imenso, e muito letal. Ele provavelmente é capaz de acertar um Garrador cegueta na corrida, e as garras não vão ajudar muito contra o couro à prova de balas do Ram. Burrowers seriam prontamente pisoteados com as poderosas pernadas do monstro, e Hannibal, coitado, teria sorte de conseguir correr para cima de algum carro antes de tomar uma cabeçada daquelas...

25 de outubro de 2011

Dead Island (PC, Xbox360, PS3) (***)

Dead Island (PC, Xbox360, PS3) (***)

Eu me lembro de uma vez ter lido em uma revista (se não me engano foi a Set, sobre cinema) uma entrevista com Mike Mignola onde ele contava o sacrifício que foi fazer o filme do herói Hellboy, com os produtores o tempo todo querendo mudar a cor do personagem para amarelo, seu nome para "Heckboy" e fazer ele virar um monstro só quando estava bravo...

É, parece que a era dos produtores sem noção chegou aos games também. Dead Island foi anunciado primeiro com um trailer que mostrava, de trás para a frente, a morte de uma família em um resort durante uma infestação zumbi. A promessa era um game inovador, open-world, com uma ilha paradisíaca imensa à sua disposição, zumbis aos montes e, principalmente, foco na personalidade e no sentimento dos personagens durante este momento difícil.

O jogo Dead Island não chega nem perto desta descrição. A impressão que dá é que, a cada 10 minutos, os produtores da Deep Silver e da Techland exigiam que ele copiasse pedaços de outros games como Resident Evil, Dead Rising, The Suffering, Dead Space e Left4Dead.

"Hummm... você me parece familiar..."
Ok, até aqui tudo bem, originalidade é algo difícil de se alcançar mesmo (pergunte para as centenas de RPGs que copiam a série Final Fantasy por aí...), e, no fundo, Dead Island é capaz de te divertir durante a maior parte do jogo, principalmente por conta de seu nível de desafio alto.

Mas vamos por partes. Aqui temos uma ilha chamada Banói, na Oceania, que praticamente vive do turismo com enormes resorts à beira-mar e atrações para gringos. Do nada uma epidemia zumbi aparece e você está preso no meio dela.

Você tem à disposição quatro personagens para escolher (Left4Dead?): um rapper fracassado (de longe o personagem com melhores status... sim, eles são MUITO desequilibrados) que por algum motivo obscuro é bom com armas de contusão, um ex-jogador de futebol americano que pelos mesmos motivos estranhos pode arremessar facas explosivas (???), uma policial chinesa expert com armas cortantes (pelo visto os produtores acreditam que policiais ainda usam espadas na China....) e uma aborígene guarda-costas que é excelente com armas de fogo (a única que faz sentido até aqui... mesmo que você só vá ver uma arma de fogo quase na metade do jogo...).

"Abra a boca e diga 'Ááááááá'" 
Logo no começo você percebe que Dead Island tem alguns probleminhas. O jogo é feito para ser jogado principalmente no modo cooperativo (Lan ou internet), mas os personagens são extremamente desbalanceados. Pegue o rapper Sam B, por exemplo, ele pode aguentar mais porrada que todo mundo, é mais forte, causa mais dano e "apenas" é mais lento, ok, ele deveria ser o "tanker" do grupo, uma vez que é especialista em armas de combate corpo-a-corpo, mas a mocinha Xian Mei, que também é especialista em combate mano-a-mano, não chega aos pés do rapper...

Durante o jogo, hibridações de outros jogos ficam evidentes. Você pode modificar armas em bancadas de ferramentas, acrescentando todo tipo de lixo bizarro nelas (Dead Rising?), e não estamos falando apenas de clássicos como tacos de baseball com pregos, entram ai também facões com baterias de celular ligados neles com fios, tornando-os elétricos, munição que dá choque, tochas, bombas feitas com desodorante (?) bizarras armas paralisantes feitas com detergente (??).

"Oi gracinha, lembra de mim do Left4Dead?"
Os zumbis também lembram bastante outros jogos. No início há zumbis lentos e tolos e outros rápidos e agressivos (como em quase todo game de zumbi), mas depois você encontra os suicidas explosivos (Dead Space?), os gordões que vomitam em você (Left4Dead?) os fortões que saem correndo, te atropelam e arremessam longe (Left4Dead novamente?) e até um bizarro zumbi/esqueleto com foices no lugar de mãos (Lembra 300 de Esparta? E The Suffering?).

A parte gráfica também foi vítima de alguns problemas, principalmente no que diz respeito a texturas e volumes. Parece que inicialmente o game foi bem feito, com uma boa variedade de mortos-vivos em vários estados de decomposição, bonitos modelos dos protagonistas, boas texturas nos ambientes... Então algum espírito de porco decidiu de última hora que o jogo precisava de névoa, e foi adicionada uma névoa muito, mas muito fake, com uma textura horrível e contornos das partes menos transparentes para as maiores. E para variar ela não se comporta direito no jogo, é comum entrar em uma sala que tem apenas um "tapete" de névoa em um cantinho, sem origem específica, sem volume, sem se esparramar para o resto da sala...

"Zumbis tudo bem, mas Las Plagas é sacanagem!"
A parte sonora também é capenga. Apesar das dublagens serem, na maioria, bem competentes (e vez ou outra realmente passarem uma idéia de emoção dos personagens), os sons dos monstros são mal feitos e não se comportam como deveriam. É praticamente impossível determinar de onde vem cada grunido, berro ou gemido, mesmo com o zumbi do seu lado, não dá para perceber de onde vem o som. Sabe aquele ótimo efeito e atmosfera aterrorizante que Dead Space 2 criou? É isso que faz falta aqui.

Há algumas boas idéias no gameplay. Quando você começa a usar uma arma, ela está novinha em folha, alguns golpes depois e você vai ver cabos de vassoura quebrando, facas entortando e machados rachando, em um game que se apoia muito em armas improvisadas, estes efeitos são muito bem feitos, e dão um tom de veracidade para a coisa toda (quantas pessoas você consegue derrubar com um cabo de vassoura antes dele se quebrar?). Golpes nos braços e pernas podem cortá-los ou quebrá-los, derrotando o zumbi ou deixando ele menos perigoso, enquanto um ataque na cabeça pode arrebentar o crânio dele ou decapitá-lo totalmente. Falando em cabeças, esqueça os filmes e nunca mire na cabeça em Dead Island, é mais fácil e eficaz simplesmente arrebentar as pernas dos zumbis, deixando eles fora de combate mais rapidamente do que com golpes no crânio.

"Mire no pé! É o ponto fraco dele!!"
Um zumbi arrebentado ou mutilado sangra de maneira satisfatória, manchando paredes, chão e até o teto dos locais. Poucas vezes vi um sangue tão bem feito em um game quanto em Dead Island. Pena que o mesmo não possa ser dito da IA. Ok, a inteligência de um zumbi não é lá essas coisas, mas aqui a coisa beira o ridículo. Basta tirar os pés do chão que os zumbis quase imploram para serem mortos. Perseguido por dezenas de mortos-vivos? Suba em um carro, caçamba de lixo ou muro, mesmo que você fique na altura do peito dos zumbis, eles vão parar na sua frente, esticar os braços para cima e ficar te olhando com cara de cachorro com fome... Depois de descobrir isso, algumas fases viram uma corrida de carro em carro para matar zumbis sem correr riscos.

Por falar em risco, Dead Island tem uma maneira bem estranha de se aproximar do gênero RPG. Aqui você ganha experiência, sobe de nível e libera habilidades adicionais como na maioria dos jogos de RPG eletrônico, mas, para não perder o desafio, o jogo simplesmente "upa" os zumbis na mesma medida, ou seja, conforme você fica mais forte, rápido e letal matando zumbis, eles também ficam mais fortes, rápidos e resistentes, mesmo que você volte às primeiras partes do jogo... Se por um lado isso equilibra o desafio, por outro joga a idéia de um progresso de personagens "estilo RPG" por água abaixo. Do que adianta eu ficar mais forte se sempre vou ter o mesmo trabalho para matar o mesmo inimigo? Podiam fazer que nem Left4Dead, por exemplo, que não segue esse tipo de progresso...

"Oba! Achei a ilha do Lost!"
Embora tenha muitos problemas (tanto técnicos quanto de desenvolvimento), Dead Island é um jogo divertido, e você pode gastar várias horas arrebentando crânios de zumbis... até chegar em uma daquelas fases do tipo "game over automático". Em várias partes do jogo você tem que escoltar outros personagens que, além de terem pouquíssima vida, são suicidas e vão correr em direção do primeiro zumbi que virem. Como o jogo usa aquele maldito método de autosave, você corre o risco dele "salvar" bem no momento que um zumbi fodão (tipo o cara das foices) está estripando o aliado que você deveria escoltar, aí cai em um círculo vicioso de dar loading só para ver um game over automático. Após mais de 70 horas de jogo, isso aconteceu comigo (levava dois segundos, contados no relógio, para o jogo terminar de dar "reload" na fase e o meu aliado morrer, dando game over. O jogo já salvou ele arremessado por um zumbi em pleno ar, nem dava tempo de chegar até ele correndo...)

Dead Island é um game que prometeu muito, cumpriu muito pouco e ainda fez bonito o bastante para conseguir prender os jogadores por umas 70 horas ou mais... contando que seus aliados inúteis não sejam pisoteados por mortos-vivos bem durante o savegame automático...