7 de novembro de 2011

The First Templar (PC, Xbox360) (**)

The First Templar (PC, Xbox360) (**)

Em 1119, Hugues de Payens reuniu alguns cavaleiros das cruzadas e se apresentaram ao rei Balduíno II de Jerusalém com o intuito de criar uma ordem de monges guerreiros dedicados a proteger os peregrinos cristãos que viajavam para aquele reino. Assim surgiu a Ordem dos Cavaleiros Templários.

Mas não é sobre Hugues de Payens o jogo da Kalypso, The First Templar (literalmente "O Primeiro Templário"). Ao contrário do que o título te faz acreditar, o game se passa nos últimos dias da Ordem, quando os Cavaleiros Templários se tornaram extremamente ricos e influentes, atraindo a ira do rei francês, louco para enfiar a mão na grana dos cavaleiros, conspirando com a Inquisição católica para acusar os Templários de heresia e queimá-los na fogueira.

Aqui você joga com Celian de Arestide, um membro da Ordem dos Templários com a nobre missão de resgatar o Santo Graal, o cálice usado por Jesus na última ceia. Além de enfrentar o quebra-pau entre cristãos e muçulmanos em Jerusalém, Celian também terá que lidar com a crescente hostilidade da Inquisição e dos nobres franceses.

Com essa narrativa, esse "Assassins Creed às avessas" teria tudo para ser um bom game de ação medieval. A parte gráfica impressiona, com texturas bem feitas, excelentes efeitos de luz e sombra, reflexos e uma bela paleta de cores. A parte sonora não é ruim, e os diálogos são bem dublados. Acrescente a isso um combate bem montado, com direito a "Fatalities" no final de cada ataque, golpes especiais e belos modelos de personagens.

Apesar de ser um jogo muito bonito e bem feito, The First Templar deixa transparecer o amadorismo da Kalypso, mais acostumada com games de estratégia e administração como Tropico. Vários menus, como os de equipamentos e árvores de habilidades só são acessíveis através dos menus de saída do jogo ao invés de permitirem as usuais teclas de atalho "I" e "C".

O maior problema de The First Templar, na verdade, é a falta de desafio. Itens "escondidos", baús e colecionáveis são mostrados no minimapa, tirando qualquer possibilidade de exploração. As fases são lineares ao extremo, com combates fáceis e sem grande imersão na história.

Ao abrir um baú, por exemplo, você normalmente encontra "XP". Embora pontos de experiência sejam necessários para melhorar as habilidades de seu personagem, falta uma explicação melhor do que havia dentro do baú... Algum pergaminho com técnicas novas de luta? Como se parece "100 XP" para seu personagem?

Há poucas partes onde armadilhas, puzzles e sequências stealth dão um ar do que o game poderia ter sido, mas na maior parte é um jogo extremamente fácil, sem praticamente nenhum desafio, com pouquíssima imersão, praticamente nenhuma sidequest interessante (apenas missões ocasionais, como arrombar a porta de uma casa em chamas para salvar pessoas presas lá dentro...), nenhuma oportunidade de escolha para o jogador e absolutamente nada para ser descoberto ao longo do game. A própria narrativa é pouco interessante, e toca em temas pesados sem o menor cuidado.

As cruzadas mesmo é um tema que demanda certo cuidado. Embora seja vista com certo heroísmo no cinema e na cultura pop ocidental, nada mais foi do que uma grande quantidade de fanáticos religiosos praticando genocídio contra civis árabes que tiveram o azar de morar em Jerusalém e proximidades no século IX e X. Ao invés de tratar isso com uma certa distanciação histórica (que nem a série Total War) ou dando uma maior complexidade aos acontecimentos (como a série Assassins Creed), The First Templar trás o velho esteriótipo do "ocidental bonzinho cristão" contra os "orientais maus infiéis". Mesmo tratamente é dispensado à Inquisição, movimento religioso que usava de tortura e assassinato contra pessoas suspeitas de não seguirem a religião católica, que é retratada como se fosse um bando de renegados escondido em monastérios sombrios, completamente separados dos "bons cristãos" templários e cruzados. Infelizmente a falta de cuidado com a parte histórica praticamente anula o valor desse game para quem se interessa por História Medieval. Não que isso seja um problema, pois outras séries como Assassins Creed também tomam liberdades em relação à narrativa, mas a falta de desafio aqui torna o jogo mais um "filme interativo" do que um verdadeiro game.

Como uma das primeiras incursões da Kalypso no genero de ação em terceira pessoa, The First Templar mostra uma excelente qualidade gráfica, bons diálogos e uma animação competente, com modelos bem construídos. Pena que ainda falta uma certa experiência em criar uma aventura desafiadora, locais para se explorar, coisas escondidas para se encontrar e personagens memoráveis pra se relacionar. Sobra apenas uma excelente animação gráfica em uma história tosca e que banaliza temas como tortura, genocídio e fanatismo religioso.

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